quarta-feira, 30 de novembro de 2011

paRA Pensar


"Impõem-se os valores e a visão de país hegemônico sobre os outros países e, dentro de cada país, a perspectiva da classe e do grupo dominantes como padrão a todos. Isso impera mais do que nunca na sociedade de massas. Ao colonialismo e ao imperialismo interessam tais procedimentos, que fazem os dominados adotar a ideologia dos dominadores e comprar seus produtos, aceitando a si mesmos como entes inferiores e só se vendo como tendo algum valor à medida que imitam os dominadores e eventualmente são reconhecidos por eles.
O grande problema se desloca, portanto, para o descobrimento e a desmontagem das estruturas básicas que determinam as visões vigentes de mundo, a fim de descobrir os mecanismos que levam as pessoas a acreditar em absurdos, fazendo da alienação o modo dominante de ser. Nessa perspectiva, se 95% da população se declara filiada a alguma religião, quase todo mundo é louco, embora seja considerado normal. Isso não garante porém, sanidade para os 5% restantes. Se as pessoas mentem para si mesmas em coisas básicas como acreditar em um alma imortal, numa divina providência, na existência de Deus e de deuses, na ressurreição real dos mortos, no casamento como promessa de amor eterno, na Justiça como aplicação da lei, no ensino como redenção e assim por diante, por que não irão mentir para si e para outros em coisas menores sempre que isso for conveniente?
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Quem apenas obedece a mandamentos ou a códigos oficiais do Estado ainda não ingressou no território da ética, pois para ele se trata apenas de uma questão de obediência, sem que ele ouse questionar as normas e suas versões oficiais. O advento da cultura moderna de massas conseguiu tornar mais amplo o engodo, a manipulação e a alienação.  Fala-se muito do que tem pouca importância, e nada se questiona do que é importante.
Os maiores atores não estão nos palcos, mas nos templos, nos palácios, nos tribunais. São respeitados por que seus gestos estão em todas as pessoas.  A hipocresia é geral, encenando-se a mentira como se verdade fosse. Ninguém pode arremessar a primeira pedra, pois haveria tantos alvos quanto atiradores. Na era da igualação do desigual, mais atiram pedras aqueles que mais mereciam ser alvos."
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Flávio R. Kothe - Prefácio, Nietzsche, Marx, Freud. Fragmentos do Espólio, Julho de 1882 a inverno de 1883/1884.
 
Por: L. Cycy

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