PaRA Pensar

paRAPensar - Injustiça Escancarada






Nunca o Judiciário brasileiro esteve tão exposto na mídia e na boca do povo. Quase todos os dias a mídia registra os conflitos entre instâncias, críticas internas e externas a membros da corporação, contradições de posições, decisões e sentenças. Até bate-boca entre ministros do Supremo Tribunal Federal são transmitidos ao vivo pela TV e circulam na Internet para delírio das torcidas, provocam mensagens e abaixo-assinados.

Tudo indica que a questão de fundo é uma só: o bloco monolítico do Poder Judiciário, historicamente a serviço das classes dominantes, não consegue mais atuar de forma monolítica. Por isso mesmo expõe suas contradições numa sociedade marcada pela desiguldade, sofre com as divergências intestinas e é alvo de outras instituições mais suscetíveis às exigências democráticas. Mesmo que se diga o óbvio, a crise é positiva, tem a ver com possíveis mudanças de adaptação a uma realidade que insiste em abandonar vícios do passado oligárquico. Apesar da disciplina hierárquica, florescem as correntes comprometidas com a utopia jurídica segundo a qual a lei e a Justiça devem ser aplicadas igualmente para todos, sem qualquer distinção. 

A mesma instituição utiliza pesos e medidas diferentes para julgar ricos e pobres. Aos pobres aplica a rigidez da punição – independentemente de ter os seus direitos assegurados. Aos ricos, em muitos casos, todo o aparato legal leva à impunidade. A opinião pública percebe que a injustiça é escancarada. 






A mesma instituição que concede habeas corpus a figuras como a proprietária da butique de luxo Daslu, que deve aos cofres públicos R$ 1 bilhão, deixa ladras de xampu e desodorante longos meses morando na cadeia:





Maria Aparecida evita olhar para sua imagem refetida no espelho. Faz sete anos que a jovem paulistana saiu da cadeia, mas, nem que quisesse, conseguiria esquecer o que sofreu durante um ano de detenção. Seu reflexo remonta ao ocorrido no Cadeião de Pinheiros, onde esteve presa após tentar furtar um xampu e um condicionador que, juntos, valiam 24 reais. Lá, Maria Aparecida de Matos pagou por seu “crime”: ficou cega do olho direito. Portadora de “retardo mental moderado”, a ex-empregada doméstica foi detida em flagrante em abril de 2004, quando tinha 23 anos. Na delegacia, não deixaram que telefonasse para a família. Foi mandada diretamente para a prisão, onde passou a dividir uma cela com outras 25 mulheres. Em surto, a jo-vem não dormia durante a noite, comia o que encontrava pelo chão, urinava na roupa. Passado algum tempo, para tentar encerrar um tumulto, a carceragem lançou uma bomba de gás lacrimogêneo na área das detentas. Uma delas resolveu jogar água no rosto de Maria Aparecida, e a mistura do gás como líquido fez com que seu olho fosse sendo queimado pouco a pouco. “Parecia que tinha um bicho me comendo lá dentro”, conta. A pedido das colegas de pavilhão, que não aguentavam mais os gritos de dor e os barulhos provocados pela moça, ela foi transferida para o “seguro”, onde ficam as presas ameaçadas de morte. Maria Aparecida passou a apanhar dia e noite. “Eu chorava muito de dor no olho, e elas começaram a me bater com cabo de vassoura”, relembra, emocionada. Somente quando compareceu à audiência do seu caso, sete meses depois de ter sido detida, sua transferência para a Casa de Custódia de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, foi autorizada. Lá, diagnosticaram que havia perdido a visão do olho direito. Foi nessa época que sua irmã procurou a Pastoral Carcerária, que a encaminhou para uma advogada que entrou com um pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça de São Paulo, que foi negado. Apelou, então, ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que, em maio de 2005, concedeu liberdade provisória à jovem, 13 meses depois de ter sido presa por causa de 24 reais. A advogada também entrou com um pedido de extinção da ação, baseando-se no “princípio da insignificância”, aplicado quando o valor do patrimônio furtado é tão baixo que não vale a pena a justiça dar con-tinuidade ao caso. No entanto, até hoje, o processo não foi julgado, e Maria Aparecida continua em liberdade provisória.

É um descaso muito grande. Já era para esse julgamento ter acontecido. Minha irmã pagou muito caro por esse xampu que não chegou a utilizar”, critica. “Tem gente que não precisa estar na cadeia. Existem penas alternativas e o caso dela não seria de prisão, mas sim de internação, já que desde os 14 anos ela toma medicação controlada”.

O mesmo recurso jurídico – o habeas corpus – pedido pela advogada para que Maria Aparecida respondesse ao processo em liberdade foi solicitado e concedido, em 24 horas, a outra mulher. Mas um “pouco” mais rica: a empresária e proprietária da butique de luxo Daslu, em São Paulo, condenada em primeira instância a uma pena de 94,5 anos de prisão. Três pelo crime de formação de quadrilha, 42 por descaminho consumado (importação fraudulenta de um produto lícito), 13,5 anos por descaminho tentado e mais 36 por falsidade ideológica. Somando impostos, multas e juros, a Justiça diz que a Daslu deve aos cofres públi-cos 1 bilhão de reais.



A diferença de tratamento dispensado a casos como o de Maria Aparecida e a dona da boutique acontece porque, embora na teoria a lei seja a mesma para todos, na prática, ela funciona de forma bem distinta para os representantes da elite e para os pobres. Entretanto, que não existe uma justiça para ricos e outra para as camadas mais humildes. “Ela é uma só, mas é aplicada diferentemente”. A questão do acesso à justiça no Brasil é histórica. “Sempre houve uma grande diferença de tratamento dos cidadãos de diferentes classes sociais pelas instituições judiciárias”. Ele explica que dentro do judiciário há distinções no andamento e e efetividade dos processos, que variam com a classe social dos envolvidos. Um dos maiores pro-blemas do poder é sua morosidade. No entanto, “isso não significa que os processos dos ricos são mais ágeis. Depende dos interesses e efeitos produzidos pelos processos”. Ou seja, a Justiça, quando interessa às classes dominantes, também pode ser lenta. Como exemplo, o “o longo tempo de uma execução para cobranças de dívidas de impostos, de contribuições previdenciárias”. Em relação a casos penais, isso também ocorre, “como quando uma pessoa com muitos recursos financeiros é acusada – Paulo Maluf, por exemplo. Nesse caso, ela é ca-paz de bloquear o andamento do processo até que a pena esteja prescrita. A agilidade em decidir a prisão ou soltura de uma pessoa também varia, de acordo com sua classe social”. A diferença é que “um acusado de classe menos favoreci-da não será capaz de usar as oportunidades permitidas pelo processo”.

Fonte: Revista Caros Amigos, com adaptações.






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paRAPensar: As guerras das mulheres

É preciso bater nas mesmas teclas. Relevar os problemas sociais que envolvem as mulheres brasileiras. Temos o compromisso de discutir tais assuntos e ampliar nosso conhecimento, para que o nosso trabalho com o rap seja cada vez mais forte.
Por: Looh.


 
Três fatos que expressam as péssimas condições de vida das mulheres na sociedade brasileira, serão expostos nesse post afim de que voltemos mais uma vez nossa atenção à essas problemáticas. Um deles é sobre o tráfico de mulheres do Brasil para inúmeros países, especialmente para à Europa, com o objetivo de transformá-las em prostitutas. 

As oportunidades de emprego oferecidas pelos aliciadores à essas mulheres, jovens, inúmeras vezes crianças, que prometem gordos salários em euros e doláres, seduzem-nas em seus países de origem, onde vivem destituídas dos seus direitos mais básicos como cidadãs. Uma das principais causas do tráfico de pessoas é o abismo sócioeconômico existente entre os países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento e os desenvolvidos, discrepância intensificada pela globalização recente. A corrupão de funcionários públicos que facilitam o tráfico pelas fronteiras e a ineficiência ou morosidade do judiciário no julgamentos dos casos e na punição dos culpados, além da emigração sem documentação que também fortalecem a viabilidade do crime.



Outro fato, relata o funcionamento das casas-abrigo mantidas por ONGs e pelo Estado, reservados para mulheres vítimas de violência doméstica. Durante muito tempo a sociedade procurou esconder esse problema e demorou em definir políticas públicas ao necessário esquema de proteção. Para escapar da violência de maridos e companheiros, as mulheres precisam juntar coragem para mudar de vida e muitas estão seguindo este caminho.

É preciso ajudar estas mulheres a começar uma vida nova. O fenômeno da violência contra a mulher assume facetas cada vez mais graves, com a agressão a terminar muitas vezes num homicídio, explicou a presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, à saída do encontro. "A melhor forma de combater este problema é reforçar a sua visibilidade. Assim mais vítimas terão coragem de denunciar", considera Elza Pais.


O último, escancara o círculo vicioso de um sistema montado para enganar cidadãos e consumidores: são os serviços de call center, telemarketing e de atendimento dos clientes de grandes empresas de telefonia, bancos, cartões de crédito e de saúde privada. Elas contratam empresas terceirizadas que funcionam como senzalas no mundo neoliberal eletrônico, com métodos de trabalho próximos da escravidão. Mais uma vez as mulheres trabalhadoras formam o grande exército da super exploração.

Com o tempo, os Sac´s proliferaram e tornaram-se (sub) empregos. Hoje há milhares de trabalhadores que atuam nesses serviços, e perto de outros segmentos, a oferta é espantosa. Com pouca ou nenhuma exigência de experiência, um exército de pessoas corre em busca das vagas. A maioria delas são vítimas do desemprego ou jovens em busca do primeiro trabalho. Nas centrais, todas terceirizadas, os atendentes passam por diversas provações, desde duras restrições quanto as pausas, até mesmo transmitir procedimentos absurdos aos clientes. Tudo isso sem falar nos salários baixos. Tão vítimas quanto os que aguardam na linha pela resolução de problemas são os que mal pagos e extremamente pressionados, tentam solucionar as centenas de casos que chegam nas centrais de atendimento todos os dias. Enquanto se preocupa com o problema não resolvido, grande parte da população descarrega sua raiva no atendente da central telefônica, umas das menores e mais mal remuneradas peças do complexo sistema de um call center. 

Fonte: Revista Caros Amigos, com adaptações.

Essa é uma guerra não apenas das mulheres, mas de todos nós: superar as situações de violência e degradação humana.








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paRAPensar - Ricos e Democracia no Brasil





 Aqui os ricos vivem muito bem.

Sabemos que se formos a qualquer cidade brasileira, veremos segmentos sociais que participam de um alto padrão de consumo. Há bairros de qualquer cidade brasileira onde há casas com garagem com 4, 5 carros, cada membro da família tem um automóvel. Há casas compatíveis com padrão hollywoodiano de habitação.

Os ricos vivem aqui muito melhor que a classe média nos Estados Unidos e na Europa porque aqui os ricos não pagam impostos. E lá não existe como aqui, essa massa de serviçais. É manicure, empregados domésticos, cortador de grama, faxineira, auxiliar, ou seja, um exército de prestadores de serviço. No Brasil, as famílias de classe média e ricas têm, em média, 13 serviçais à sua disposição. São 13, no mínimo, ou seja, são mais de 20 milhões de pessoas que constituem esse exército com remuneração extremamente baixa. Por que é possível ir para uma churrascaria, uma pizzaria no Brasil e comer de forma extravagante pagando preços baixos? Porque aqueles que lá trabalham, o pizzaiolo, o churrasqueiro têm remunerações extremamente baixas. O que chama a atenção é que viabilizar e internalizar esse padrão de consumo é somente possível com uma brutal concentração de renda, que tira dos pobres e dá para os ricos e com um Estado que se organizou para atender fundamentalmente os ricos, o andar de cima da sociedade, como dizia Milton Santos.  

Esse andar se cima tem tudo. Tem banco público, tem sistema de tecnologia, tem compras públicas, tem o rap comercial, suas músicas, seus artistas, seu sistema, ou seja, montou-se uma estrutura para sustentar os de cima. Isso não é uma experiência exclusivamente brasileira, mas talvez chegamos a maior sofisticação.



Democracia em meio ao capitalismo, que não quer mais só o nosso coração, quer nosso cérebro.


Democracia não é falar mal do governador, do presidente, falar de qualquer coisa. Democracia é a construção de convergências, de projetos estruturantes, revolução, questionamento, não-passividade. O desafio que temos é enorme. A democracia nos dá essa condição. Não é mais o FMI, a ditadura que nos impossibilita de praticarmos o novo. Quem nos impossibilita de praticarmos o novo. Quem está impossibilitando somos nós mesmos, dada a nossa incapacidade de construirmos divergências, críticas, lutas. Chamemos a atenção que a crise não é só destruição, mas uma oportunidade de construção de algo superior. Ela abre perspectiva do enfraquecimento da dominação política que antes moldava o mundo, ou seja, abre a possibilidade de construção de um novo padrão civilizatório.

Uma das principais funções das escolas dos ricos por exemplo, da elite é construir com as crianças individualmente, seu projeto de vida. Para quem vai viver 100 anos terá dormido 30 anos. Na sociedade do conhecimento que é a do capitalismo, não há razão alguma que as pessoas comecem a trabalhar antes dos 25 anos de idade. Não é a sociedade da informação? Por que começa a trabalhar cedo, antes de ter completado a universidade? E isso já existe no Brasil, mas para os ricos. Dificilmente vamos encontrar um filho de rico que tenha começado trabalhar antes dos 25 anos de idade, depois de ter completado a universidade, ter feito MBA, ter estudado fora do país. Somente no Brasil os filhos de pobres estão condenados a trabalhar sempre. Eles querem dar trabalho para os filhos dos pobres, não querem dar educação.

As ações de educação são todas voltadas para o mercado de trabalho. Os filhos dos pobres começam a trabalhar muito cedo, eles não estudam e vão ocupar os piores postos do mercado brasileiro. Temos República no Brasil? Não temos República, nada. República significa igualdade de oportunidades, e se há os que começam a trabalhar com 13 anos de idade e outros só depois dos 25, não há igualdade de oportunidade. Os filhos dos ricos vão começar depois e ocupar os principais postos do mercado de trabalho, seja no setor público, seja no privado. O mercado de trabalho reproduz a desigualdade. Os filhos dos pobres continuarão sendo pobres e os filhos dos ricos continuarão sendo ricos. 





Por: Looh, com adaptações da entrevista de Márcio Pochmann (O mercado de trabalho reproduz a desigualdade, Revista Caros Amigos, número 149, Agosto de 2009), economista da Unicamp.











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paRAPensar - Literatura Marginal




 
Um grandioso 2012 a todos os leitores e amigos do blog DuRap DF. Que tenhamos um ano de boas conquistas e vida longa ao rap nacional!

As minas da quebrada escrevendo pelo rap
o sentimento é verdadeiro só entende quem conhece...

São soldados armadas, amadas ou não
Quase todas num grito de armas na mão
Nas ruas lhes ensinam uma antiga lição:
De morrer pela mudança ou viver sem razão

DuRap DF.

Para abrir o ano, postamos sobre a literatura marginal, expressão genuína da voz da periferia, da voz dos becos, favelas, quebradas, ruas e vielas.

Literatura Marginal:  "conjunto de ideias e vivências compartilhadas que possibilitou a moradores da periferia, tradicionalmente excluídos como sujeitos do processo simbólico, pudessem entrar em cena para produzir sua própria imagem, dando origem a uma intensa movimentação cultural em bairros das periferias".


 REFERÊNCIAS:

Revista Rap Nacional - Entrevista Eduardo Facção Central

* INQUÉRITO #PoucasPalavras Clipe Oficial:


"Um salve à todos aqueles que escreveram e continuam escrevendo a nossa história com legitimidade:Preto Ghóes, GOG, Sérgio Brás e toda Cooperifa. Alessandro Búzios, Suburbano convicto, Ferréz, 1da Sul, Sacolinha, Élo da Corrente. Edições Toró, Jéssica Balbino, Alexandre de Mário e o Rap Brasil, Vrás 77, DJ TR, Toni C, Nelson Maca e tantos outros.Vida longa, Literatura Marginal... INQUÉRITO"




Entrevista com o escritor Ferréz:

 

*  Revista Caros Amigos:


GOG - A Rima denuncia:


  DJ Raffa - Trajetória de um guerreiro

  aboriginerap.blogspot.com:


alberto-profissao-perigo.blogspot.com:

 TONI C lança "O HIP HOP ESTÁ MORTO", o livro que vai mexer com você


O escritor, documentarista e coordenador do Ponto de Cultura Hip Hop  a Lápis,  Toni C é um dos maiores ativistas culturais da periferia. Foi o único representante do Hip Hop a ser premiado com o  Tuxauá 2010 com uma das 50 pessoas mais influentes da cultura brasileira
Agora Toni C acaba de lançar seu primeiro romance “O Hip Hop Está Morto”, narrado em terceira pessoa , com uma linguagem informal e com o ritmo de um bom rap.


Neste romance o leitor terá contato de maneira quase autobiográfica com o Hip-Hop , o movimento é personificado pelo autor, ganhando vida, voz e sobretudo personalidade tudo de forma original e fiel ao movimento.

A obra tem 156 páginas que debate  questões e apresenta um pouco da história do Hip-Hop Nacional e conseqüentemente os boicotes e atentados de extermínio contra nossa cultura.

“O Hip Hop Está Morto” cumpre a tarefa de levar a historia do movimento Hip Hop no Brasil e suas influências internacionais ao público em geral. O texto traz elementos adicionais até para os mais aficionados, mas também é um excelente “guia introdutório” para quem deseja descobrir mais sobre esta cultura.


Artistas, ativistas e verdadeiros marcos do Hip-Hop aparecem devidamente citados. Desde  Racionais Mc’s a MC Cauan, e ainda tem 28 fotos de grandes ícones da história do Hip-Hop brasileiro, das suas origens no centro da região metropolitana de São Paulo até os rincões da periferia, nada é descartado pelo personagem principal.

Atenção a pré-venda do “O Hip Hop Está Morto” já começou através do sitehttp://www.literarua.com.
br/ você adquiri o livro por apenas 13,00.

paula@rapnacional.com.br
(11) 8680-0275 (tim) 6726-0316 (Oi)


 DENTRE OUTROS...







paRAPensar - Poesia Intercultural

Amílcar Cabral



Considerado o "pai" da nacionalidade cabo-verdiana, Amílcar Cabral foi um dos mais carismáticos líderes africanos cuja acção não se limitou ao plano político mas desempenhou um importante papel cultural tanto em Cabo Verde como na Guiné-Bissau.

Em 20 de Janeiro, completaram 39 anos que o herói, Amílcar Cabral, foi assassinado. Para homenageá-lo nesse dia, resolvi escrever esse poema.

Amílcar Cabral: pedagogo da revolução


1973, 20 de JaneiroUma grande perda para o continente inteiro
Assassinaram o nosso líder Cabral
O homem cujo a ideologia é imortal

O verdadeiro símbolo da nossa revolução
O pai da nossa luta contra a colonização
A fonte da minha inspiração
Hoje desconhecido pela nova geração

Lutaste em prol de todo o povo africano
Não apenas para os povos guineense e cabo-verdiano
Por um futuro melhor para o seu povo
Com esperança num amanhã novo

A sua sabedoria é inquestionável
A sua coragem na luta é incomparável
Em nenhum momento desististe
Com competência cada barreira ultrapassaste

Continuas no coração de cada um que acredita
Uma África melhor é possível
Basta continuarmos a luta
Sem armas e com inteligência é possível


Autor: João Paulo Varela (Thomas Sankara)















paRAPensar -Boa Leitura



... Sacudido de um lado para o outro, o leitor precisa pensar adiante. Deixar de lado a preguiça do sofá em que jazem seu corpo e sua alma para que o espírito possa correr nas alturas, mesmo que seja para despencar no abismo da dúvida ou do sono. Não há um sol da verdade suprema para aquecer lagartos.

Não há justiça. Cada código é uma moralidade limitada que pretende ser absoluta... A justiça do Estado é a socialização da vingança pelo poder, a prepotência legalizada de uns sobre os outros, a vontade de poder instituída como direito de dominar e impor. A maior sinceridade obriga a reconhecer que se mente sempre. Alegam-se razões que não são as que efetivamente determinam as ações.

Flávio R. Kothe - Prefácio, Nietzsche, Marx, Freud. Fragmentos do Espólio, Julho de 1882 a inverno de 1883/1884.



... Só há uma explicação: Destino. Antes da gente nascer, alguém, sei lá quem, talvez Deus, Deus define direitinho como é que vai foder a sua vida. É isso. Era a minha teoria. Deus só pensa no homem quando tem que decidir como é que vai destruí-lo. Quando ele não tem tempo, faz uma guerra, um furacão e mata um monte, sem ter que pensar em nada. Em mim, ele pensou.

Aquele cara vai aprender a não sair por aí chamando os outros de veado, eu disse. Ele não te chamou de veado, chamou de gringo. É a mesma coisa. Veado e gringo são a mesma coisa. Também não sei de onde eu tirei isso. Fui para a praça, carregando minha espingarda dentro da caixa. Suel chegou logo depois. Estava desarmado, de mãos dadas com a namorada. Isso me encheu de coragem. Peguei a espingarda. Ajoelhei na posição de tiro. Pega tua arma, Suel. Ele falou que eu devia estar brincando, somos amigos, ele disse. Não éramos amigos porra nenhuma, mas eu poderia perfeitamente pegar esta deixa e encerrar o assunto.

 Pega tua arma, insisti. Ele ria, não sabia se acreditava ou não. Suel queria mesmo desistir e isso me encheu de coragem. Olhei as pessoas na porta do bar do Tonhão, todos me observando, isso me encheu de coragem. Mirei. Se você quiser me matar, Máiquel, vai ter que ser pelas costas, ele disse. Suel ficou de costas para mim e saiu gingando, de mãos dadas com a namorada.
 
Pode atirar, ele gritava, me mate pelas costas. Dei o primeiro tiro, Suel voou no chão, deve ter morrido na hora. A namorada berrava e tentava arrastar o negro para o carro. Dei outro tiro sem mirar e acertei na cabeça de. Suel. Foi assim, as coisas aconteceram desse jeito. Ele foi a primeira pessoa que matei. Até isso acontecer, eu era apenas um garoto que vendia carros usados e torcia para o São Paulo Futebol Clube.

Patrícia Melo - O Matador. 2° edição – 2003, Editora Companhia das Letras.
L. Cycy.













paRAPensar - O mundo do dinheiro e seus heróis

Emir Sader em, Carta Maior, blog do Emir, post de 03/01/2012.




Até um certo momento os ricos ou escondiam sua riqueza ou tratavam de passar despercebidos, como se não ficasse bem exibir riqueza em sociedades pobres e desiguais. Ou até também para escapar da Receita.

De repente, o mundo neoliberal - esse em que tudo vale pelo preço que tem, em que tudo tem preço, em que tudo se vende, tudo se compra – passou a exibir a riqueza como atestado de competência. Nos EUA se deixou de falar de pobres, para falar de “fracassados”. Numa sociedade que se jacta de dar oportunidade para todos, numa “sociedade livre, aberta”, quem nao deu certo economicamente, é por incompetência ou por preguiça.

Ser rico é ter dado certo, é demonstrar capacidade para resolver problemas, ter criatividade, se dar bem na vida, etc., etc. Até um certo momento as biografias que se publicavam eram de grandes personagens da historia universal – governantes, lideres populares, gênios musicais, detentores de grandes saberes. A partir do neoliberalismo as biografias de maior sucesso passaram as ser as dos milhardários, que supostamente ensinam o caminho das pedras para os até ali menos afortunados.

Todos dizem que nasceram pobres, subiram na vida graças à tenacidade, à criatividade, ao trabalho duro, ao espirito de sacrifício. Tiveram tropeços, mas nao desistiram, leram algum guru de auto-ajuda que os fez aumentarem sua auto estima, acreditarem mais em si mesmos, recomeçarem do zero, até chegarem ao sucesso indiscutível.

Seus livros se transformam em best-sellers, vendem rapidamente – até que vários deles caem em desgraça, porque flagrados em algum escândalo -, eles viajam o mundo dando entrevistas e vendendo seu saber que, se fosse seguido por seus leitores, produziria um mundo de ricos e de pessoas realizadas e felizes como eles.

Quem vai publicar um livro de um “fracassado”? Só mesmo se fosse para que as pessoas soubessem quais os caminhos errados, aqueles que nao deveriam seguir, se querem ser ricos, bonitos e felizes. O mundo do trabalho, da fábrica, do sindicato, dos movimentos de bairro, das comunidades – mundo marginal e marginalizado.

Programas de televisão exaltam os ricos, os bem sucedidos, as mulheres que exibem sua elegância, sua falta de pudor de gastar milhões na Daslu e nas viagens a Nova York e a Paris. Ninguém quer ver gente feia, pobre, desamparada, que só frequenta os noticiários policiais e de calamidades naturais. As telenovelas tem como cenários os luxuosos apartamentos da zona sul do Rio e dos jardins de Sáo Paulo, com belas mulheres e homens que não trabalham, no máximo administram empresas de sucesso. Os pobres giram em torno deles – empregadas domésticas, entregadores de pizza, donos de botecos -, sempre como coadjuvantes do mundo dos ricos, que propõem o tipo de vida que as pessoas deveriam ter, se quiserem ser ricos, bonitos, felizes.

Esse mundo fictício esconde os verdadeiros mecanismos que geram a riqueza e a pobreza, os meios sociais – os bancos por um lado, as fábricas por outro – em que se geram a riqueza e a fortuna, a especulação e a expropriação do trabalho alheio. Em que estão os vilões e os heróis das nossas sociedades.










paRAPensar - Poesia Feminina do DF

25/02/2012


É por elas também, as mulheres do rap do DF e do entorno...




Elas

Ria, sorria é só poesia!

Ei menina segue a rima,

Sai desse clima! Hoje é tempo delas,

Aquelas, que não importa a cor, muito menos a dor...

Ria, sorria é só poesia!

Ei mulher, o tempo já é!

Se fores uma pode ser mil, segue mudando,vai sonhado. Mas...

Ria, sorria é só poesia

Ei senhora, conta a história 

Sua trajetória acrescenta o agora.

Ria, sorria é só poesia

Ei meninas, mulheres e senhoras, gotas que enchem o oceano

Usa teu encanto, não se perca pelos cantos

Você é quem conduz.


Por: Gleice kelly












paRAPensar - A CAPITAL




A capital


Políticos, médicos, arquitetos, burgueses, engenheiros
Confortavelmente conhecidos como pioneiros

Nós? Pedreiros, serventes, pau de arara, mãos calejando
Expulsos do centro, discriminadamente chamados de candangos

A eles há o verde, arborização, local para esporte diversão
O nosso verde, há muito tempo utilizado por eles, como lixão

Possuem praças, jardins
Irrigados com a mesma água que falta por aqui

Três meninas tomba, Noroeste ergue-se
Cerrado ao chão, Condomínio prevalece
Destinação de equipamento público, por lei modificada
Para construção de Shopping na área pelo parlamentar comprada

Fauna e flora extintas
Menos os animais selvagens da nova câmara legislativa

Lá na capital, eles têm o lago Paranoá para elevar a umidade do ar, facilitando a respiração

Lá na Estrutural, nós temos um lago de churume que sempre que chove, transborda e invade a casa da população

Quão bom é possuir plano de saúde convênio
Para que nossas crianças não nasçam em corredores ou morram nos banheiros
É a falta de leito e higiene misturados a placenta
A capital grita de dor, pede socorro, mas não agüenta

Aqui o natal não tem chester, ceia, e sim um misto de tristeza e fome
E lá na capital governador distribui panetones

Uma Brasília ora pedindo ajuda, proteção
Uma outra ora agradecendo o cifrão, o enriquecimento, a corrupção

A capital é um filme no cinema
A capital é um filme no cinema

De um lado final feliz, de outro trágico
Eles tem pontos turísticos e aqui pontos de tráfico

Comum entre as Brasílias
Porém eles possuem dinheira pra pagar a clinica
De recuperação aos seus dependentes e pra gente
Não há clinica de recuperação pra crianças viciadas, somente:
rua, redução da maioridade penal, prisão: correntes

Eu sigo amando através de minha música, de meus poemas
Construindo para a capital Outros 50.

 Por: Markão Aborígine














paRAPensar -Matar Bin Laden, ressucitar Al-Qaeda


Assassinar Bin Laden é tentativa de matar processos de mudança no mundo árabe

 Matar Bin Laden, ressuscitar a Al-Qaeda

Uma das maiores surpresas nos levantes populares no mundo árabe é que eles deixaram momentaneamente fora de cena todas as forças islâmicas e, especialmente, a mais extremista  Al-Qaeda - marca comercial obscura e altamente instrumentalizada para embasar ditadores, reprimir todo tipo de dissidência e desviar a atenção dos verdadeiros campos de batalha.

Com indicações de caráter geral, tais como a aspirina, Bin Laden reaparecia sempre que necessário para alimentar a "guerra ao terrorismo"; foi mantido vivo para sacudir encruzilhadas eleitorais ou justificar leis de exceção e emergência. Desta vez, a situação era grave demais para não usá-lo pela última vez, numa orgia midiática que ofusca até mesmo o casamento do príncipe William e introduz efeitos muito preocupantes no mundo todo.

Quando parecia relegada ao esquecimento, finalmente encurralada pelos próprios povos que deveriam apoiá-la, a Al-Qaeda reaparece. Um grupo de desconhecidos, em nome dessa patente, assassina Arrigoni na Palestina (pacifista italiano pró-Palestina). Dias depois, no auge dos protestos anti-monarquia no Marrocos, uma bomba explode na praça Jamaa Fna, em Marrakech. E, agora, Bin Laden reaparece, não vivo e ameaçador, mas em toda a glória do martírio adiado, estudado, cuidadosamente encenado, e um pouco improvável.

"A justiça se fez", disse Obama; mas a justiça exige tribunais e juízes, procedimentos de inquérito, e não uma sentença independente. George Bush foi mais sincero: "É a vingança dos EUA", disse ele. "É a vingança da democracia", acrescentou, e milhares de democratas estadunidenses vibraram de alegria em frente à Casa Branca, saltando com bárbara euforia sobre esqueletos.

Mas, democracia e vingança são tão incompatíveis como pedagogia e infanticídio. Os Estados Unidos gostam de linchamentos, sobretudo aqueles feitos pelo ar, sabendo que são mais poderosos do que os princípios. "O mundo está aliviado", disse Obama, mas, ao mesmo, alertou sobre "ataques violentos ao redor do mundo após a morte de Bin Laden". Atenção?! Alerta?! Promessa?! Que alívio pode produzir um assassinato que, declaradamente, ao mesmo tempo ameaça aqueles que, presumivelmente, se quer salvar?

Este era o momento. A Al-Qaeda volta a dominar a cena; a Al-Qaeda volta para saturar o imaginário ocidental. Enquanto o suposto cadáver de Bin Laden é lançado ao mar, Bin Laden assume, de forma fantasmagórica, todas as lutas e todo o desejo de justiça. Será cumprida a profecia de Obama: haverá ataques violentos por todos os lados e o mundo árabe-muçulmano voltará a ser um apanhado de fanatismos e decapitações, querendo ou não suas populações. Entre democracia e barbárie, é evidente que os EUA não têm dúvida: a barbárie se ajusta muito melhor ao "American Dream" (“sonho americano”) e, claro, ao delírio de Israel.

Nós não sabemos se realmente assassinaram Bin Laden; o que fica claro é que o esforço para ressuscitar a todo o custo a Al-Qaeda pretende matar os processos de mudança que começaram há quatro meses no mundo árabe.

Matéria publicada no site da Revista Caros Amigos
Pelo escritor: Santiago Alba Rico, para o Rebelión












paRAPensar - Direitos Humanos no Brasil
22/02/2012


O RAP como formador de opinião, certamente abre nossas mentes ao interesse de inúmeros assuntos. Sabemos ainda, que o Hip Hop facilita o diálogo com a juventude ao abordar temas como Direitos Humanos. 

Desenvolver uma prática social solidária e participativa é um imperativo ético para aqueles que acreditam no ser humano, que aspiram por um mundo de Paz, Justiça e Fraternidade. Preocupados com  a crise sombria em que vivemos, sentimos todos o dever de buscar algo maior que dê sentido de luta para a vida, e sentido à nossa esperança.

Há muita coisa positiva sendo feita. É um desafio discernirmos as sementes de esperança já plantadas e já dando frutos. São sementes fundamentais da pessoa humana, o clamor contra as várias formas de injustiças, a sensibilidade pela situação de miséria. Cada um tem um papel e uma responsabilidade mas é preciso que todos sejamos semeadores de Esperança.

Temos o dever de lutar pela fraternidade, esquecida do mundo de hoje, pela solidariedade entre os povos, pela tolerância entre as pessoas, pelo desarmamento das mentes e dos corações, pela aceitação do outro, diferente mas igual, sempre nosso irmão. Não importa que estas belas idéias sejam um trabalho a longo prazo. Sem utopias, a vida não vale a pena ser vivida.



Margarida Genevois


No Brasil de hoje, fala-se muito em Direitos Humanos; tornou-se politicamente correto mencioná-los. No entanto, há pouco mais de 15 anos, abordar os Direitos Humanos em nosso país era considerado subversão, os seus divulgadores eram mal vistos e até execrados como “defensores de bandidos”.

Mesmo depois do fim da ditadura militar e do restabelecimento da democracia, certos setores da sociedade ainda encaram com desconfiança aqueles que defendem os Direitos Humanos.

Alguns policiais ainda afirmam: “Fazemos um esforço enorme para prender um criminoso e quando o fazemos, os ‘Direitos Humanos’ atrapalham tudo pois não permitem torturar e bater”.

A deturpação do significado dos Direitos Humanos era proposital por parte de grupos de extrema direita, aos quais interessava a consolidação do status quo e do autoritarismo. Estas facções exploravam o medo da violência crescente e sobretudo a tomada de consciência das classes populares esmagadas ao longo de 21 anos de ditadura.

A acirrada incompreensão e a campanha contra os Direitos Humanos provêm do desconhecimento daquilo que eles representam ou até mesmo de posições egoístas dos interessados em manter situações de privilégios. No entanto, eles interessam a todos e a cada um em particular. Sem respeito aos Direitos Humanos, não pode haver sociedade justa, tampouco democracia sólida.

Direito, no Brasil, sempre foi um conceito vago, que significou privilégios para alguns. Em seus 500 anos de história, foi o autoritarismo e não o Direito, que permeou as relações na sociedade e entre ela e o Estado. A finalidade da colonização foi o enriquecimento europeu com a exploração predatória de recursos naturais, como o pau-brasil e o ouro – e de seus recursos humanos – a mão-de-obra indígena e a negra. A escravidão, durante três séculos, forneceu mão-de-obra barata e fortaleceu o autoritarismo. Para a maioria da classe dominante, o escravo era um objeto sem necessidades nem quaisquer direitos.

O dono do escravo podia conceder-lhe regalias por mera generosidade, e não como direito ou respeito à dignidade de sua pessoa. O escravo não era nem cidadão de segunda classe como eram consideradas mulheres, por exemplo, mas meros instrumentos, cujo destino era o trabalho a serviço dos mais poderosos.

As populações do campo, isoladas em imensas extensões de terra e que também dependiam diretamente dos donos do poder, não cogitavam em exigir direitos mas ansiavam por dádivas e favores. A elite, única considerada capaz de dirigir a nação e de estabelecer a ordem,  forjava leis que defendiam, antes de mais nada, os seus próprios interesses.

O trabalho, sutilmente, era considerado desprezível, sobretudo o trabalho manual. O preconceito vinha disfarçado e diluído em sentimentos de generosidade, calcados numa idéia de superioridade. O Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão; e ela deixou marcas profundas na cultura do país. Nesta sociedade hierarquizada, dissimulada por uma ideologia de conciliação, “Direito” era sinônimo de privilégios que não alcançavam a maioria.

Com a República, a situação mudou apenas na teoria. No início do século, as greves eram tidas como “um acinte” e as questões sociais, uma “questão de polícia”. Ocorreram progressos mas ainda perdura no povo, a idéia de que tudo se deve esperar do governo particularmente favores e na relação Estado/sociedade, ainda permeiam os critérios do paternalismo e clientelismo.

Quando no Brasil dos anos 60 a população começou a exigir direitos, os militares impuseram “ordem” e, inspirados na Doutrina da Segurança Nacional, instalaram uma ditadura que durou 22 anos. Com lutas, sacrifício e dor, a sociedade conquistou as eleições diretas e o sufrágio universal. Mas os direitos sociais ainda não estão em vigor.

 

AMÉRICA LATINA

    A história vivida pelo povo brasileiro é basicamente a mesma de todos os povos da América Latina. Alguns países, mais do que o Brasil, foram submetidos a episódios ainda mais graves: genocídio de índios, revoluções sangrentas e ditaduras cruéis (100 mil mortos e desaparecidos na Guatemala e América Central, nos últimos 15 anos; 30 mil no Chile, Argentina e Uruguai, durante as suas ditaduras militares) como atestam os relatórios da instituição American Watch.


Paralelamente, cresce a pobreza no continente americano. Ela atinge hoje, quase a metade da população latina, o que representa cerca de 460 milhões de pessoas. Desde as reformas que frearam as hiper inflações na Argentina, México e Brasil, o número de pobres aumentou em 60 milhões. O desemprego, fruto do neo-liberalismo globalizante, aumentou. Os diretos sociais como o da habitação, saúde e educação, continuam precários.

A violência disseminada leva ao preconceito difuso de que o inimigo agora é o pobre, perigoso porque incomoda com sua presença feia e degradante, que a qualquer momento pode revoltar-se e tornar-se violento. O pobre tende a se transformar num ente perigoso, temido; a sua identidade está cada vez mais relacionada com o bandido,  o marginal. “Os excluídos, na terminologia dos anos 90, não são residuais nem temporários, mas contingentes populacionais crescentes que, não encontrando espaço no mercado, vagueiam pela cidade, sem emprego e sem teto”, como afirma Elimar Pinheiro Nascimento.

A pobreza, resultado do apartheid social num país onde convivem um primeiro e um quarto mundo é fruto, no Brasil, da segunda maior concentração de renda do mundo. Mas esta acentuada concentração de rendas está disseminada por todo o continente.


     Documento do CEPAL constata que os 10% dos mais ricos latino-americanos ganham significativamente mais do que os 10% mais pobres: 70% mais, no Brasil; 50% no México; 42% na Colômbia e 26%, na Argentina. Segundo este documento, duzentos milhões de pessoas ainda vivem em estado de pobreza na América-Latina, apesar de o percentual ter caído de 44% para 39% entre 1990 e 1994. O consultor do BID, Bernardo Klisberg, prevê que, na virada do milênio, 6 de cada 10 latino-americanos viverão na pobreza, e afirma que esta pobreza mata, na América-Latina, 1 milhão e 500 mil pessoas entre as quais 900 mil crianças.  

O relatório de 1997, da American Watch por exemplo, denuncia freqüentes e graves violações de Direitos Humanos na Colômbia, onde grupos militares, para-militares, guerrilheiros e traficantes degladiam-se dizimando a população civil. Na Colômbia, a percentagem de pobres subiu para 49% da população; este índice passou de 15 para 17 milhões, em 2 anos. A história daquele país é um rosário de violências de todos os tipos: desde a proclamação da República, houve 40 revoluções; a guerra interna, entre 1948 e 1953, matou 300 mil pessoas; as guerrilhas, surgidas no começo dos anos 60, persistem atuantes até hoje. No México, aconteceram e acontecem perseguições nas áreas rurais, desaparecimentos e assassinatos. 

Os zapatistas continuam a mostrar ao mundo o verdadeiro país; entre 1994 e 1996, a cifra dos desaparecidos passou de 1300. Nem o México, nem o Peru, nem o Chile, três países que se manifestaram oficialmente como discípulos triunfantes do ajuste neo-liberal, superaram a miséria, a violência e a indignação popular. A Guatemala que assinou há poucos meses, um tratado de paz, depois de anos de guerras fratricidas, poderá esquecer as dezenas de milhares de torturados, desaparecidos, assassinados, os 70% da população indígena eliminados? No Peru e na Venezuela, a tortura é empregada oficial e abertamente contra terroristas e criminosos comuns. A pobreza endêmica, a marginalização, o desemprego, o porte ilegal de armas, o tráfico de drogas, são problemas preocupantes para todos os países da América-Latina. 

Nas prisões de todo o continente, milhares de presos vivem em condições degradantes, muitos sem julgamento. No Brasil, os massacres de Corumbiara, Carandiru, Candelária, Eldorado, Diadema, Cidade de Deus e muitos outros, que nos envergonham, ainda permanecem impunes. A leitura do relatório da American Watch que analisa a vigência dos Direitos Humanos na América Latina, evidencia que há muito por fazer. Seqüestros, assassinatos, torturas, execuções sumárias, corrupção, tráfico de drogas, prisões desumanas: esta sucessão de dramas aberrantes, agravados pela impunidade que os dilui, acabam no esquecimento. Todos estes problemas não aconteceram num passado longínquo, mas são fatos do presente, estão acontecendo nos dias atuais. Basta lembrar o assassinato do Bispo Juan Gerardi, baleado em El Salvador, em 26 de abril deste ano, dois dias depois de ter divulgado um documento denunciando as execuções e prisões arbitrárias dos últimos anos em seu país. Diante de um quadro tão sombrio da situação da América Latina e do Brasil, o que podemos fazer, nós, cidadãos conscientes, preocupados com a justiça e o Bem-Comum? Evidentemente não existem fórmulas nem respostas prontas. O primeiro grande passo é a preocupação com estas questões. 

As soluções virão com o interesse e a participação de todos. Porém, a tomada de consciência da responsabilidade social de cada um não nasce gratuitamente na nossa sociedade egoísta, individualista e consumista. Daí a importância da educação e particularmente da Educação em Direitos Humanos. Há 26 anos, a Comissão Justiça e Paz de São Paulo luta contra injustiças, participando no Brasil de todas as lutas populares de apoio e defesa dos presos políticos, pela Anistia, contra a Doutrina de Segurança Nacional, pela Constituinte, contra a pena de morte, sempre na primeira linha de defesa pela justiça e em prol dos perseguidos. Também atuou junto a refugiados latino-americanos, fugitivos das ditaduras vizinhas, do Chile, Uruguai e Argentina, mais de mil passaram por seus escritórios.


A partir da fundação desta Comissão, muitas outras organizações, com preocupações específicas, foram surgindo. Com a volta do Estado democrático, a responsabilidade evoluiu e compreendemos que não bastam existirem eleições livres e não bastam leis justas, se elas não forem reconhecidas e respeitadas. Não é suficiente que os governos eleitos democraticamente tenham boas intenções se não existir espírito cívico e participação popular. É preciso que o povo conheça seus Direitos e deveres, é preciso EDUCAÇÃO. Em contato com várias Organizações Não-Governamentais da América Latina, constatamos que o trabalho mais útil a ser feito era o de Educação em Direitos Humanos. Um trabalho baseado no diálogo, em que todos os envolvidos são considerados sujeitos.















paRAPensar - Informe Militante





Fazer por fazer?

Cantar por cantar? Dançar por dançar? Fazer por fazer? É assim que ultimamente estão fazendo, dentro disto faço nova pergunta: Cantar pra quem? Dançar pra quem? Fazer pra quem? Vamos continuar evoluindo a rimática e regredindo o conteúdo? Enquanto ficamos ostentando carros muitas vezes que não possuímos, tendo como objetivo o lucro, nada teremos, e em ponto nenhum chegaremos.

Sabe pra quem você tem que dançar ou cantar? Para as pessoas que a cada 03 segundos morrem no mundo de fome. Para os mais de 100 mil jovens desempregados no DF. Para as famílias que choram a cada 10 minutos, pois são alvo de armas de fogo. Para as 8.000 pessoas que morrem diariamente devido a doenças associadas ao uso do cigarro. Para aqueles que vomitam seus próprios rins. Para as crianças pais e mães de crianças. Para o jovem que como você queria cantar grafitar, discotecar ou dançar, mas não pode, a droga não deixa; Ou talvez quem poderia ensina-lo está  muito ocupado treinando autógrafos e na sua praia de idiotice pessoal (se é que me entende).

Vê? O hip hop é muito mais que esse mundinho de calças largas e parafernálias carnavalescas. O hip hop é mudança, é transformação social. Tem que haver objetivo em cada moinho de vento e em cada bombardeio de tinta. Temos que somar a energia que temos a uma causa, e jamais se deixar levar pelos PRODUTO$ DO$ OPRE$$ORE$. Direcione seu talento a esta causa: ao fim da miséria, a elevação da fraternidade humana.

Ou vai ser mais um a arruinar e destruir o sonho que muitas pessoas ajudaram a erguer com a própria vida? Raciocine...

Ostentação                          Realidade
fantasia...                            ...miséria

 











paRAPensar - Marcha das Margaridas




Marcha das Margaridas

“Enquanto persistir o modelo de desenvolvimento dominante, focado no agronegócio, não haverá desenvolvimento sustentável, justiça, autonomia, igualdade e liberdade neste país”. Com essa convicção, as Margaridas floriram Brasília nos dias 16 e 17 de agosto. Elas são dezenas de milhares de trabalhadoras do campo e da floresta, organizadas em sindicatos, que pela quarta vez, desde 2000, marcharam em Brasília para reivindicar políticas públicas por melhores condições de vida na área rural. A estimativa da organização era reunir 100 mil mulheres. O número que saiu na imprensa foi 70 mil, a polícia militar contou 45 mil. Seja qual for a contagem real, trata-se da maior mobilização de mulheres do Brasil e da América Latina. 

A Marcha das Margaridas tem esse nome em homenagem à dirigente sindical Margarida Alves (1943-1983), grande símbolo da luta das mulheres por terra, trabalho, igualdade, justiça e dignidade. Rompeu com padrões tradicionais de gênero ao ocupar por 12 anos a presidência do sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba. Sua trajetória sindical foi marcada pela luta contra a exploração, pelos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, contra o analfabetismo e pela reforma agrária. Margarida Alves foi brutalmente assassinada com um tiro no rosto pelos usineiros da Paraíba em 12 de agosto de 1983.

Fonte: Revista Caros Amigos, Agosto, 2011.










paRAPensar - Revolução no Egito



  
O povo egípcio num exemplo genuíno de revolução, resolve apontar a podridão de seu próprio regime. É inegável o papel das redes sociais neste novo modelo revolucionário. É o que tem propiciado a desmoronamento dos antigos pilares. 

E nós brasileiros, amantes do RAP (Ritmo e poesia ou Revolução Através das Palavras), dessa cultura de críticas sociais surgida nos anos 70, não podemos deixar de nos atentar às questões culturais e sociais que vêem explodindo pelo mundo. A Revolução dos egípicios é um exemplo claro de luta pela democracia, contra a opressão, corrupção e a pobreza, dentre outros. Fato muito similar com a nossa realidade brasileira.

Pode-se identificar nas origens da violência extremista e nas origens da mudança democrática, uma série de problemas comuns como, insatisfação econômica, rejeição às ditaduras e à própria corrupção, até mesmo com a humilhação que muitos desses países enfrentaram de derrotas militares. No caso do Egito, da perda do prestígio internacional. O crescente endividamento, o aumento no preço de alimentos e o desemprego em alta ameaçam a economia egípcia, tida como uma das histórias de sucesso econômico do Oriente Médio. Mas o que acontece hoje é algo muito mais interessante e mais saudável do que foi o terrorismo. 


Nos casos nós temos grupos de jovens bem educados, bem instruídos utilizando a tecnologia da informação que a Al Queada também usou mas pra fins muito mais extremistas. Mas agora essa juventude no mundo árabe, encontrou uma maneira de canalizar a sua frustração, que é pleitear uma mudança do sistema político, defender transformações democráticas e muito disso tem a ver com o resultado do 11 de setembro no mundo árabe. 

Os acontecimentos dos últimos anos demonstraram que o terrorismo não é uma solução para problema nenhuma, quer dizer, sem nenhuma exceção os países árabes estão hoje muito piores do que estavam antes dos atendados do 11 de setembro; o Oriente Médio em geral se radicalizou muito também, temos aí o caso mais expressivo do Irã, que antes dos atentados vinha de numa série de reformas econômicas e políticas e que depois disso, retrocedeu muito com o governo Ahmadinejad e, essa nova juventude islâmica que está despontando no Egito, na Tunísia e no Iémen, aprendeu com os erros do passado.


E ainda sem dúvida, é necessário fazer uma reflexão que ditaduras estimuladas pelos Estados Unidos, não funcionam, visto que, Obama herdou uma situação de alianças diplomáticas muito complicadas e irônicamente no início do seu governo ele fez um discurso no Cairo muito bonito, de abertura pro mundo mulçamano e enfim, expressão da esperança de mudança que foi o que o levou a Presidência. Mas ele não tem conseguido lidar de uma maneira adequada com as crises no Egito, na Tunísia justamente por essa indefinição em se continuar apoiar regimes autoritários que hoje os americanos a longo prazo, já descobriram que são muito instáveis, mas ao mesmo tempo, o mal de se substituir esse mal conhecido por um processo de transformação democrática que ninguém sabe onde vai parar. Pode resultar em sociedades muito mais abertas, muito mais pacíficas, mas também pode significar um retrocesso. 

A Democracia não se impõem, mas será que esses países vão conseguir fazer a democracia surgir de baixo pra cima? Parece que a democracia encontrou o seu tempo no mundo árabe. Durante muitos anos se dizia que a população árabe não estava preparada para esse tipo de reforma, mas agora esses jovens sobretudo e, outros segmentos, tomaram a si essa responsabilidade, de mudar os seus países. E, aconteça o que acontecer no Egito nas próximas semanas e nos próximos meses, sem dúvida nenhuma o País conquistou o respeito e a admiração do mundo inteiro, pela garra com que estão defendendo os seus direitos, pleiteando mudanças e tentando corrigir aquilo que está errado em sua nação.

Por: L. Cycy (da internet e adaptações).


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