segunda-feira, 14 de novembro de 2011

paRA Pensar


Milícia = Grupo de extermínio



No combate do mal contra o mal, eu perdi mais um.
Um filho, um pai... Perdi mais um dia de esperança.
Eu avisei: meu filho, não sai essa noite não!
"Mas mãe, amanhã é feriado".

E agora, 4 horas da manhã, acabei de receber uma ligação:
ele levou tiro; Quantos? 07?!
E ainda vem um pé de ferro, esse policial
me enchendo o saco, dizendo coisas que não consigo escutar.

Cadê meu filho, não tá no hospital!?
Senhora, ninguém deu entrada aqui com esse nome.
Deus que está no céu, tudo ficou escuro pra mim
Depois de algumas horas, a dor e indignação já me consumiam.

Alguém já explicou como as armas e drogas chegaram na favela?
Também trazidas pelos “polícias”, pelos políticos. Vejo isso mais do que nunca.
Só pode ser brincadeira achar que o combate ao crime organizado,
É subir na favela. Saquear, matar 100 inocentes e mostrar pra mídia.

Aqui, o traficante foi até preso. Mas quem manda agora é o Tenente da PM
O Capitão do corpo de bombeiros... Existe até taxa de segurança
Taxa pra andar, taxa pra estudar, taxa pra comprar,
Pra não apanhar, pra viver, pra respirar...

O papel do militar é destruir o inimigo. Como pode tá aqui na favela?
Agindo à margem da lei, mostrando uma falsa guerra?
E os princípios fundamentais da Constituição brasileira?
Eu ouvi falar. Mas aqui o que vale, é matar pelo poder.

Sem defesa e reação. Por isso, pra mim todo mundo é marginal.
O traficante, o “polícia”, o político,
O Estado.
É o mal contra o mal e o sujo engolindo o cuspe do outro sujo.

A mesma casa é invadida umas 5 vezes no mesmo dia
Quando a mídia não tá por perto.
Os móveis quebrados, o chute na cara,
Agora, mais um filho morto em algum chão. O meu filho.

Puta que pariu, bando de filhos da puta!
Preciso xingar, eu quero, pois não vou calar.
Então vou investigar, preciso saber o porquê disso tudo.
Quem matou meu filho. A verdadeira realidade da favela.

Favela pacificada é o c*&lho.  Antes de sair de casa
Preciso deixar alguém olhando tudo
Por que os “polícias” virão aqui pra levar o pouco
E quebrar todo o resto. E espancar todo o resto. Matar quem tá na rua.

Na mídia dizem que o morador é conivente com o tráfico
Pois deixa o traficante usar o barraco
E o polícia. Mas a verdade é que aqui ninguém tem a opção
De deixar ou não eles usarem.
Vão entrar, te bater, te humilhar e até te queimar depois.
E queimar não é quase nada.
Agora jogam os corpos no mato para serem devorados pelos porcos.
E os executados não têm antecedentes, só vacilos fúteis, a maioria.

As armas só mudaram de protagonistas.
Traficantes ou policiais, tanto faz.
Antes de tudo, eu tinha meu filho. Agora sou estatística.
Antes de UPP, eu queria política pública.

Segurança dada por um verdadeiro Estado democrático de direito.
Soberania popular, cidadania brasileira.
Queria exercer meus direitos,
Morrer antes do meu filho, de velhice. Agora, queria enterrá-lo.

Ao menos.
Mesmo que seja assassinada depois.



- O garoto era o único menino dessa mãe. Filho único. Moravam somente os dois, ele também não tinha pai. “Não tenho mais condições de morar aqui, são muitas lembranças”. Logo depois da morte do filho, a mãe iniciou uma investigação por conta própria. “Não vou sossegar pois o que tinha que perder, já perdi. Agora o que tenho?! A minha vida?! Quero que se dane!Eu vou até o final. Nem que depois vocês escutem: mãe de fulano foi assassinada.”

No dia do assassinato, a mãe ouviu de um policial militar que o calibre que usaram para matar o menino era o 380. “Aquela bala pequenininha que entra, não faz furinho nenhum, mas, quando chega dentro, explode tudo. Porém, ao prestar depoimento na delegacia, o escrivão disse à mãe que ainda não sabia o calibre, pois não haviam feito o exame de balística. “Se for mesmo 380, quem usa essa arma é polícia ou bandido”, diz.

Na noite do assassinato, testemunhas relatam que alguns homens que estavam circulando nas redondezas, anotavam as placas de motos e carros. Além do filho dessa mãe, que foi morto, outro jovem morreu e outro ficou gravemente ferido. De acordo com o boletim policial, os jovens foram abordados por dois indivíduos encapuzados que desceram de um veículo preto não identificado, e sem nada dizer, passaram a efetuar disparos com arma de fogo. Foram sete tiros do mesmo lado, na cabeça e no ouvido. Constava também que os projéteis não foram encontrados. “Depois de matarem, os encapuzados vão embora calmamente, não têm pressa. Em seguida, chega a polícia, muitas vezes sem ser chamada. Carregam os corpos, as cápsulas detonadas, mexem na cena do crime para evitar a possibilidade de investigação”. Daí culpam os próprios moradores, ou dizem que eram traficantes... -

L. Cycy

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