Milícia = Grupo de extermínio
No combate do mal contra o mal, eu perdi mais um.
Um filho, um pai... Perdi mais um dia de esperança.
Eu avisei: meu filho, não sai essa noite não!
"Mas mãe, amanhã é feriado".
E agora, 4 horas da manhã, acabei de receber uma ligação:
ele levou tiro; Quantos? 07?!
E ainda vem um pé de ferro, esse policial
me enchendo o saco, dizendo coisas que não consigo escutar.
Cadê meu filho, não tá no hospital!?
Senhora, ninguém deu entrada aqui com esse nome.
Deus que está no céu, tudo ficou escuro pra mim
Depois de algumas horas, a dor e indignação já me consumiam.
Alguém já explicou como as armas e drogas chegaram na
favela?
Também trazidas pelos “polícias”, pelos políticos. Vejo isso
mais do que nunca.
Só pode ser brincadeira achar que o combate ao crime
organizado,
É subir na favela. Saquear, matar 100 inocentes e mostrar
pra mídia.
Aqui, o traficante foi até preso. Mas quem manda agora é o
Tenente da PM
O Capitão do corpo de bombeiros... Existe até taxa de segurança
Taxa pra andar, taxa pra estudar, taxa pra comprar,
Pra não apanhar, pra viver, pra respirar...
O papel do militar é destruir o inimigo. Como pode tá aqui
na favela?
Agindo à margem da lei, mostrando uma falsa guerra?
E os princípios fundamentais da Constituição brasileira?
Eu ouvi falar. Mas aqui o que vale, é matar pelo poder.
Sem defesa e reação. Por isso, pra mim todo mundo é marginal.
O traficante, o “polícia”, o político,
O Estado.
É o mal contra o mal e o sujo engolindo o cuspe do outro
sujo.
A mesma casa é invadida umas 5 vezes no mesmo dia
Quando a mídia não tá por perto.
Os móveis quebrados, o chute na cara,
Agora, mais um filho morto em algum chão. O meu filho.
Puta que pariu, bando de filhos da puta!
Preciso xingar, eu quero, pois não vou calar.
Então vou investigar, preciso saber o porquê disso tudo.
Quem matou meu filho. A verdadeira realidade da favela.
Favela pacificada é o c*&lho. Antes de sair de casa
Preciso deixar alguém olhando tudo
Por que os “polícias” virão aqui pra levar o pouco
E quebrar todo o resto. E espancar todo o resto. Matar quem
tá na rua.
Na mídia dizem que o morador é conivente com o tráfico
Pois deixa o traficante usar o barraco
E o polícia. Mas a verdade é que aqui ninguém tem a opção
De deixar ou não eles usarem.
Vão entrar, te bater, te humilhar e até te queimar depois.
E queimar não é quase nada.
Agora jogam os corpos no mato para serem devorados pelos
porcos.
E os executados não têm antecedentes, só vacilos fúteis, a
maioria.
As armas só mudaram de protagonistas.
Traficantes ou policiais, tanto faz.
Antes de tudo, eu tinha meu filho. Agora sou estatística.
Antes de UPP, eu queria política pública.
Segurança dada por um verdadeiro Estado democrático de
direito.
Soberania popular, cidadania brasileira.
Queria exercer meus direitos,
Morrer antes do meu filho, de velhice. Agora, queria
enterrá-lo.
Ao menos.
Mesmo que seja assassinada depois.
- O garoto era o único menino
dessa mãe. Filho único. Moravam somente os dois, ele também não tinha pai. “Não
tenho mais condições de morar aqui, são muitas lembranças”. Logo depois da
morte do filho, a mãe iniciou uma investigação por conta própria. “Não vou
sossegar pois o que tinha que perder, já perdi. Agora o que tenho?! A minha
vida?! Quero que se dane!Eu vou até o final. Nem que depois vocês escutem: mãe
de fulano foi assassinada.”
No dia do assassinato, a mãe
ouviu de um policial militar que o calibre que usaram para matar o menino era o
380. “Aquela bala pequenininha que entra, não faz furinho nenhum, mas, quando
chega dentro, explode tudo. Porém, ao prestar depoimento na delegacia, o
escrivão disse à mãe que ainda não sabia o calibre, pois não haviam feito o
exame de balística. “Se for mesmo 380, quem usa essa arma é polícia ou bandido”,
diz.
Na noite do assassinato,
testemunhas relatam que alguns homens que estavam circulando nas redondezas, anotavam
as placas de motos e carros. Além do filho dessa mãe, que foi morto, outro
jovem morreu e outro ficou gravemente ferido. De acordo com o boletim policial,
os jovens foram abordados por dois indivíduos encapuzados que desceram de um
veículo preto não identificado, e sem nada dizer, passaram a efetuar disparos com
arma de fogo. Foram sete tiros do mesmo lado, na cabeça e no ouvido. Constava também
que os projéteis não foram encontrados. “Depois de matarem, os encapuzados vão
embora calmamente, não têm pressa. Em seguida, chega a polícia, muitas vezes
sem ser chamada. Carregam os corpos, as cápsulas detonadas, mexem na cena do
crime para evitar a possibilidade de investigação”. Daí culpam os próprios
moradores, ou dizem que eram traficantes... -
L. Cycy
L. Cycy
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