Literatura RAP






2013
                                        
                             


Continuando com a coluna LITERATURA DO RAP, publicamos com prazer o texto O poder da transformação, por Toni C. que é artista multimídia, autor do romance "O Hip-Hop Está Morto!" e do documentário É Tudo Nosso!, organizador do Hip-Hop a Lápis. Membro da Nação Hip-Hop Brasil e editor audiovisual da TV Vermelho.
11/10/2013

 
O PODER DA TRANSFORMAÇÃO

Com exceção dos fenômenos naturais nada muda no plano físico, sem antes existir no plano das idéias. Isto significa que só é possível transformar o mundo, transformando primeiro os homens.

"Mudar o mundo é impossível; é o que a maioria diz,
esconde a dor, esconde o ódio e tenta ser feliz,
confesso que pensei várias vezes em desistir..."
(Face da morte)

Muito se discute se o Hip-Hop é de fato arte, suas causas e conseqüências sociais, e sobre sua mercantilização. Mas, poucas vezes ouvi algo sobre o poder das transformações que tem o Hip-Hop. É mais usual ouvir que é coisa de ladrão, favelado, maloqueiro, de presidiário.

Eu não discordo. Ao invés de retrucar, prefiro observar o Hip-Hop transformar o presidiário em um ser humano com sensibilidade, qualidade de todo artista.

"Nós já estivemos bem próximos do crime, mas a mensagem do rap afasta a gente disso", diz Cobra, do grupo Conexão do Morro.


"Nada do que foi será do mesmo jeito que já foi um dia". (Nelson Motta e Lulu Santos).

O preconceito de muitos continuará, impedindo-os de enxergar isto. Pura falta de sensibilidade.

Há umas semanas, estava pintando minha casa e comecei a perceber o quanto aquilo influenciava; dava um aspecto mais limpo e novo, me mantinha mais junto de meu pai numa mesma função, o que há tempo não fazíamos.

Dei este exemplo porque não conheço adjetivo que mensure a importância de um grafite para esse que classificamos de maloqueiro. Não consigo expressar o tamanho de sentimento que está envolvido no jovem que tem mil problemas e esquece tudo para compor uma música que retrata os problemas da comunidade.

"Ouvir uma letra de rap é fazer uma leitura de mundo", diz Juarez Dayrell, 47, sociólogo e professor da Faculdade de Educação da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Autor de tese sobre o hip hop e a socialização da juventude.

Peço desculpas por ser leigo o bastante a ponto de não saber explicar a felicidade que existe no b.boy que acerta um moinho, ou um mortal. Não conheço a voltagem, mas sinto a força que tem uma roda de breack.
Conheço o poder da transformação da música. A transformação através das palavras, do beat box, das pic-ups.

Este mesmo Hip-Hop que transforma pobres em milionários nos EUA, transforma rapper em guerrilheiro, artista em ativista, marginal em agente social, poeta em profeta. E mais: transforma o ser em humano.

"Tem uns baratos que não dá pra perceber,
que tem maior valor você não vê:
Uma par de árvore na praça;
crianças na calçada;
o vento fresco na cara;
estrelas, lua."
(Racionais Mc's)

Ninguém me contou; eu não li, não assisti na TV, mas vi: marmanjão, pele escura, mais de um metro e noventa, com black power na cabeça e lágrimas no rosto durante um show dos Racionais.

"(...) Sem me perguntar me fez sofrer,
eu que me achava forte, eu que me senti,
vou me sentir um fraco quando outra dela vir.
...Diz que homem não chora,
tá bom, falou, não vai pra grupo não,
Jesus chorou."
(Racionais Mc's)

Não perderia meu tempo, não gastaria meus argumentos se não acreditasse no poder da transformação.
Aquele que você chamou de ladrão, chama você de irmão.

Acredito no poder da transformação.
Acredito na Revolução.

*Poder da transformação inspirado na música de Taide e DJ HUM.













2012
                                        
                               


Poesia Regional - OS PODERES DA UNIÃO
(Pedro Paulo da Silva - Campina Grande/PB)

Viajando por cidades da Paraíba, conheci um homem poeta, carismático, meio marrento, cabra macho daqueles que ouvimos comentar, declamando poesias interessantes que faço questão de compartilhar!



OS PODERES DA UNIÃO

O Executivo não faz
Do jeito que é positivo
A assembléia não legisla
Do jeito certo eletivo
O judiciário não julga
Isso já está cansativo.

Será que há um motivo
Pra tanta desarmonia
Um não executa o certo
Outro lei certa não cria
Quem fica para julgar
Esquece a isonomia.

Parece até tirania
Desarmonia e maldade
A CPI foi criada
Pra tentar a igualdade
Para julgar a justiça
Legisla a ilegalidade.

Poderes com qualidade
Sem precisar competir
Reforma do Executivo
Vai precisar repetir
Pois a reforma política 
Precisa logo partir.

Até quando vai existir
Falcatrua e corrupção?
Aumento do desemprego
Desleixo na Educação
Mão de obra sem qualidade
Juventude sem opção.

Exemplos para a nação
Precisa ter realismo
A CPI da justiça Vasculhando o nepotismo
Acabar com tudo isso
Precisa patriotismo.

Na política do banditismo
Só pobre é que fica preso
Pois o bandido que é rico
Da justiça sai ileso
A legislação se quebra
Quando o bandido é de peso.

O homem está indefeso
Com um executivo incapaz
A lei que deve ser feita
O legislativo não faz.
A justiça é tão injusta
Quase ninguém a satisfaz.


(Por: Lô Sousa)











 "Sejamos nós mesmos nossos lideres"
  por Crônica Mendes, do grupo A FAMÍLIA.




Dia desses, conversando com o Gordinho do grupo Primeiro Ato, me emocionei com uma declaração dele. Fiquei pensando a noite inteira em cada palavra e concordo plenamente com o que ele disse; Não dá para deixar toda a história que o Rap construiu se perder nas linhas de um contrato, ou nas rimas sem compromisso, ou se perder de fato por quaisquer motivo. Tudo bem, eu aceito o argumento 'dos demais', mais não maltrate o rap tanto assim (Obrigado Paulinho da Viola por esse pensamento nos servir tão bem.) Parece até que o coração que movia o rap deixou de pulsar forte como antes, agora parece que existem outros motivos para querer cantar rap, antes era a indignação, hoje ñ vou dizer que é por moda, hoje simplesmente não sei por que muitos cantam Rap. Não vejo, não sinto, não ouço muitos dos que estão por ai. Respeito a variedade, mas ñ aceito o desleixo com o compromisso do Hip Hop, o rap não é só música, palco, cd... Atente-se! Parece até que é facil compor um rap, não se engane fácil não é... Eis os mcs e o rappers, ao longo de mais de 20 anos muita coisa foi deturpada... Como já disse uma vez - Nesse momento lembro dum livro que li, chamado "De que lado você está?"


Gordinho, você é um guerreiro irmão, seu tempo pertence só a você, o importante é buscar estar bem e feliz consigo. Muitas vezes na luta da vida, a gente pensar que nosso tempo já passou, e muitas vezes essa sensação é causada por estarmos lutando de maneira errada, com armas erradas, com visões erradas, são tantos motivos que nos levam a pensar dessa forma, e são maiores ainda os motivos para continuar lutando e aprendendo a maneira certa. Nenhum guerreiro do rap está dispensado de sua missão, mas é bom que cada um de nós encontre nosso posto. O rap respira em você, em mim, em cada um que acredita que já foi tocado pelo rap, que teve sua vida transformada pelo rap. Acredita nisso meu mano! O rap é o que você é não o que dizem que tem que ser.



Construímos uma estrada até aqui e ela vai mais além, todos podem trilhar nessa estrada, mas saibam que sofreu, quem sangrou, quem morreu, quem digladiou, quem fez tudo para que o Hip Hop, o Rap pudesse estar nos corações e mentes dessa grande favela chamada Brasil.

Vamos pra frente, vamos para o próximo passou, mas vejo que isso ha de ser feito como processo de extensão, sem o abandono de lugar ou pessoas.



Não é nada sobre novo ou velho, mas sim sobre as maneiras de tratar o Rap, o HIP HOP... Isso é a vida da gente.

Muitos dizem que já somos velhos e que cansaram das coisas que falamos, cantamos, mas se já cansaram é bom saber que pouca coisa mudou, e o que mudou foi por causa dessa nossa luta, e saibam também que os problemas mudaram, evoluíram também, mas não estão sanados. O novo sempre vem, a forma como chega é que diferencia tudo. E quando se manifesta esse debate, muitos pensam que é inveja, raiva ou até ódio, mas da minha parte não é nada disso, é apenas uma busca por se entender como foi que a mídia fonográfica injetou essa briga entre nós, e como muitos se pintaram de acordo com o que o inimigo queria. Ouço muitos da dita "nova geração", mas não os que a mídia diz ser a nova geração.



Vamos!!!

Sejamos nós mesmos nossos lideres.
Crônica Mendes
#ContinueOuvindoRap! 










E nesse primeiro texto do mês de Setembro, apresentamos "O Problema é Nosso"
 por Crônica Mendes, do grupo A FAMÍLIA.


O PROBLEMA É NOSSO

Não temos mais problemas.
O problema não é meu.
Cada um na sua.

Em qual dessas você se encaixa?



Pra ser sincero eu não me vejo em nenhuma dessas. Nem naquela idéia tosca de cada um no seu quadrado. Tá tudo uma bagunça só, que dá medo em muitos de se posicionarem, e isso de fato é preciso. Tal como li num livro de nome "De que lado você esta?" do autor André Ebner. E ai meu irmão, minha irmã, qual é?

Estive no último domingo, 22, em um ato cultural beneficente na Favela do Moinho, a favela no coração da maior metrópole brasileira. O ato, o festival, foi em prol das famílias vítimas do incêndio ocorrido nas vésperas do Natal, 22 de dezembro do ano velho, que devastou metade da favela, deixando mais de 300 famílias desabrigadas e sem nada.

Foi íncrivel ver a força da Favela, as suas pessoas articuladas, organizadas, unidas. E como toda favela, o Moinho também tem suas contradições, mas nada que deixa no breu a luta e o exemplo de garra dessa gente nossa. Eu vi, eu estava lá.

O rap foi convocado pela Mãe Favela, a literatura com força respirou o mesmo ar... Não foi o estado, prefeitura, não foi o funk... Foi a Favela do Moinho, o povo quem convocou e o Rap é do povo e com o povo é que ele vai pra luta.


Têm muitos ignorantes por aí dizendo que o Rap agora não tem, nem precisa falar mais de problemas sociais, de comunidade ou de suas pessoas. Querem nos dizer que devemos falar apenas do nosso umbigo, do nosso ego e deixar de lado a nossa indignação. Falar disso pra que? Com um desprazer por este tipo, eu apenas discordo desses ignorantes e vos digo - Não temos que cantar sobre os problemas? Não temos mais problemas? Olhem a nossa volta, veja o que o Moinho está passando, o Pinheirinho, e tantas outras famílias de tantas outras quebradas. Nem mesmo os intelectuais da grande mídia aceitam esses mentirosos ignorantes. Estão sendo usados, aproveitem, pois cada um sabe o que vale, cada um sabe o seu peso. E antes que alguém pense que estou generalizando quando escrevo sobre isso, a resposta é simples - Eu apenas estou assumindo um lado, assim como outros estão fazendo. Lhe convido a fazer o mesmo. Lhe garanto que respostas surgirão, mascaras cairão, líderes tombarão e você se encontrará melhor consigo mesmo.










Ah, aproveito para fazer um pedido - Não nos abandone, "continue ouvindo rap, o rap."

Sem mais no momento,

Crônica Mendes
Obs: a foto e da Nina Fideles (Jornalista) e a arte é da comunidade pró Pinheirinho.

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