sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O poder da transformação - Toni C.


Continuando com a coluna LITERATURA DO RAP, publicamos com prazer o texto O poder da transformação, por Toni C. que é artista multimídia, autor do romance "O Hip-Hop Está Morto!" e do documentário É Tudo Nosso!, organizador do Hip-Hop a Lápis. Membro da Nação Hip-Hop Brasil e editor audiovisual da TV Vermelho.
11/10/2013

 
O PODER DA TRANSFORMAÇÃO

Com exceção dos fenômenos naturais nada muda no plano físico, sem antes existir no plano das idéias. Isto significa que só é possível transformar o mundo, transformando primeiro os homens.

"Mudar o mundo é impossível; é o que a maioria diz,
esconde a dor, esconde o ódio e tenta ser feliz,
confesso que pensei várias vezes em desistir..."
(Face da morte)

Muito se discute se o Hip-Hop é de fato arte, suas causas e conseqüências sociais, e sobre sua mercantilização. Mas, poucas vezes ouvi algo sobre o poder das transformações que tem o Hip-Hop. É mais usual ouvir que é coisa de ladrão, favelado, maloqueiro, de presidiário.

Eu não discordo. Ao invés de retrucar, prefiro observar o Hip-Hop transformar o presidiário em um ser humano com sensibilidade, qualidade de todo artista.

"Nós já estivemos bem próximos do crime, mas a mensagem do rap afasta a gente disso", diz Cobra, do grupo Conexão do Morro.


"Nada do que foi será do mesmo jeito que já foi um dia". (Nelson Motta e Lulu Santos).

O preconceito de muitos continuará, impedindo-os de enxergar isto. Pura falta de sensibilidade.

Há umas semanas, estava pintando minha casa e comecei a perceber o quanto aquilo influenciava; dava um aspecto mais limpo e novo, me mantinha mais junto de meu pai numa mesma função, o que há tempo não fazíamos.

Dei este exemplo porque não conheço adjetivo que mensure a importância de um grafite para esse que classificamos de maloqueiro. Não consigo expressar o tamanho de sentimento que está envolvido no jovem que tem mil problemas e esquece tudo para compor uma música que retrata os problemas da comunidade.

"Ouvir uma letra de rap é fazer uma leitura de mundo", diz Juarez Dayrell, 47, sociólogo e professor da Faculdade de Educação da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Autor de tese sobre o hip hop e a socialização da juventude.

Peço desculpas por ser leigo o bastante a ponto de não saber explicar a felicidade que existe no b.boy que acerta um moinho, ou um mortal. Não conheço a voltagem, mas sinto a força que tem uma roda de breack.
Conheço o poder da transformação da música. A transformação através das palavras, do beat box, das pic-ups.

Este mesmo Hip-Hop que transforma pobres em milionários nos EUA, transforma rapper em guerrilheiro, artista em ativista, marginal em agente social, poeta em profeta. E mais: transforma o ser em humano.

"Tem uns baratos que não dá pra perceber,
que tem maior valor você não vê:
Uma par de árvore na praça;
crianças na calçada;
o vento fresco na cara;
estrelas, lua."
(Racionais Mc's)

Ninguém me contou; eu não li, não assisti na TV, mas vi: marmanjão, pele escura, mais de um metro e noventa, com black power na cabeça e lágrimas no rosto durante um show dos Racionais.

"(...) Sem me perguntar me fez sofrer,
eu que me achava forte, eu que me senti,
vou me sentir um fraco quando outra dela vir.
...Diz que homem não chora,
tá bom, falou, não vai pra grupo não,
Jesus chorou."
(Racionais Mc's)

Não perderia meu tempo, não gastaria meus argumentos se não acreditasse no poder da transformação.
Aquele que você chamou de ladrão, chama você de irmão.

Acredito no poder da transformação.
Acredito na Revolução.

*Poder da transformação inspirado na música de Taide e DJ HUM.

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