O CRACK, POR NÓS.
Problema social, de saúde? Chaga, mazela, armadilha criada para a disseminação dos mais fracos?
Apresentamos a entrevista coletiva sobre o crack, respondida por alguns grupos, artistas e personalidades influentes do rap nacional.
Nós como cidadãos, preocupados com o uso abusivo e problemático de drogas e consequentemente preocupados com os problemas associados às políticas públicas no enfrentamento do uso de drogas, devemos também participar de discussões e disseminação dessa questão que está diretamente ligada ao nosso dia a dia.
Por: Looh.
Sabe-se que existem usuários de crack de diferentes classes sociais.
Mas é certo que a população miserável só pode comprar o crack, devido à
vunerabilidade social dessa classe? Crack, pobreza e população em situação de
rua são situações que se misturam e contribuem para o uso da droga?
- ICA (Instituto Caminho das
Artes): O poder destrutivo desta droga é superior ao da maioria das substâncias
ilícitas, devido ao seu fácil acesso, alta letalidade e precocidade do primeiro
uso, atingindo atualmente todas as camadas sociais, tornando um dos mais
preocupantes problemas de saúde pública no mundo. Contudo, devido o seu poder
altamente viciante, estimulados pelo baixo custo, o crack tem um mercado cativo
nas áreas periféricas dos grandes centros urbanos.
- Chamas (Voz sem Medo): Não. A
resposta já está no próprio enunciado: o uso desta droga independe da situação
de vulnerabilidade social. Infelizmente,
os mais carentes - nossas crianças, jovens e adultos - são potencialmente
vítimas mais frágeis dentro do processo de drogatização. Porém, eles não são
vítimas apenas do Crack. É importante que se diga que existe uma infinidade de
drogas de baixa qualidade e preço reduzido, expostas à população “miserável”
que vive nas ruas. Drogas que vão desde a cola de sapateiro à cachaça. Não
quero fugir do foco que é o Crack, porém, advirto que o mesmo não é o único
entorpecente barato e de fácil acesso a comunidade carente, seja aqui ou em
qualquer parte do Brasil. Para concluir, não resta a menor dúvida que a
exposição diária à situação de abandono nas ruas, potencializa o uso do Crack.
Infelizmente, a droga da “moda”!
- Markão Aborígine: É
interessante, primeiramente, analisarmos o contexto social que produz situação
de rua e pobreza. A conjuntura brasileira de violação de direitos, que não
oportuniza às famílias o cuidado à saúde mental e/ou acesso à educação e
trabalho, alicerçada pela elite, é a principal causadora. Cito isto, pois,
atuando com famílias nesta situação identificamos estes aspectos como
principais condutores à situação de rua e drogadição. Ao aprofundarmos o tema
vimos que o berço do consumo de crack praticado por uma criança está numa mãe
alcoólatra que não teve acompanhamento à sua saúde mental, ou seja, não lhe foi
oportunizado o tratamento adequado, pois não há CAPS (Centro de Atenção
Psicossocial) suficientes no país, além do que, o contexto machista e sexista
brasileiro fez desta, uma mãe solteira e expulsa de casa pelo pai, sem acesso à
Pensão Alimentícia e creche para que possa trabalhar e sair para sustentar sua
família. Nossas crianças ficam sozinhas em casa, assim como as crianças ricas
crescem sem a presença dos pais, porém, nossas mães cuidam dos filhos deles.
Aqui as crianças não usufruem de atividades esportivas e educativas em
contraturno escolar, como já citado, não há creches, não há acesso à cultura
através de teatro e cinema, somente acesso à cultura individualista e
consumista pregada pela televisão. Tal situação de risco e vulnerabilidade
social, assim como a situação de rua, viabilizam a aproximação e logo o consumo
de álcool, tabaco e outras drogas. O consumo das drogas atinge diferentes
classes sociais, mas enriquece apenas uma, a mesma que possui acesso às
clínicas de tratamento e a informação.
- Jéssica Balbino: Acredito que
isso influi, mas não são somente estes fatores. O tráfico é politizado e
predatório. Há influências grandes e muito poderosas, políticas e fortes, que
injetam dinheiro e esforços para que o tráfico seja cada vez mais sedutor e a
consequência disso, são cada vez mais famílias desestruturadas, miséria e
pessoas cada vez mais novas ingressando no universo das drogas. É como um
ciclo, em que os poderosos contribuem para a ignorância da população e, por
conseguinte, para o aumento do uso. Em minha opinião, um excelente caminho para
este combate atuaria em duas frentes: erradicação da fome e da ignorância, ou
seja, pelo fortalecimento da educação.
- Japão (Viela 17): NÃO
EXATAMENTE. A compra da substância vem de diferentes classes e está ligada mais
diretamente com os problemas familiares (base). Hoje em dia as comunidades
estão fortalecidas financeiramente em comparação com anos passados. SIM, o
crack se tornou um refúgio para os usuários, sendo um fio condutor para
“esquecer” problemas sérios e destruindo suas vidas.
- MC Ahoto: São várias as portas
de acesso as drogas, mais não se pode negar que a pobreza é a porta principal
para o uso do crack. É a felicidade instantânea oferecida por tão pouco.
- Daher (Guind´art 121): Pessoas de
ruas são vítimas como todas outras que usam quaisquer tipos de drogas.
A situação da família é tão agressiva que é um alívio para a criança e
o adolescente estar fora de casa?
- ICA (Instituto Caminho das
Artes): Essa situação não é novidade para ninguém. Situações como estas,
encontramos em diversas famílias do mundo, independente do seu estado social ou
formação, em grande parte, o jovens em situação de vulnerabilidade social são
tratados no universo familiar com o mesmo descaso que fora dele. A repressão já
provou não ser eficiente em nenhuma circunstância. Desta feita, eu comungo com
alguns estudiosos da matéria que as estratégias no combate a expansão do crack
deve, mesmo dentro do berço familiar, antes de tudo estar interligadas a
inclusão, reinserção e preservação da auto-estima do dependente.
- Chamas (Voz sem Medo): No caso
das crianças e adolescentes que sofrem maus tratos constantes, sim. É melhor
estarem nas ruas com os seus “iguais” irmãos sofredores, mesmo que numa
situação de alto risco, do que ao lado de pais e mães violentos, passado em
suas casas, toda sorte de agressões físicas, psicológicas e necessidades
alimentares. Estes jovens, por conta da falta de estrutura familiar e pela
omissão e má organização do Estado e da Sociedade Civil, que peca através dos
órgãos e instituições nada competentes; não criando os meios para evitar tal
problema. Há de se responsabilizar os culpados, quer seja a família, quer seja
o próprio Estado, pela falta de ação e pelo não cumprimento da lei. A saber, o
ECA e a própria Constituição.
- Markão Aborígine: Qualquer
situação já é grave. Se o Crack e outras drogas fossem apenas de uso das
periferias, possivelmente não haveria tal “repressão”, divulgação e
“preocupação”. A falta de fiscalização nas fronteiras, sobretudo, a falta de
combate a corrupção (leia-se desvio de recurso do SUS e SUAS e educação) são
mais graves.
A omissão e estagnação do governo
brasiliense e nacional são graves. Até então só foram discussões e pouca
prática em relação ao combate ao crack, tratamento de dependentes e fortalecimento
social, econômico e afetivo junto às famílias.
- Jéssica Balbino: Sem dúvida. E
a situação se agrava cada vez mais. Crianças fora de casa, com o fácil acesso
às drogas e a fuga que estas representam, constituem “famílias” cada vez mais
cedo, no entanto, são também famílias desestruturadas e aí entra o ciclo que
falei anteriormente.
- Japão (Viela 17): O crack faz
com que o adolescente momentaneamente se esqueça dos problemas familiares,
fazendo dos usuários um “esquecido” diante dos problemas. As complicações maiores vem logo após o
primeiro uso, mas a aproximação com o crack não é única exclusivamente por
problemas familiares, existem vários fatores.
- MC Ahoto: São casos e casos,
cada pessoa uma reação, cada casa uma reação. O fato de sair de casa é
simplesmente o vicio pela droga e a família não ter acesso nenhum a como reagir
a isso. São raríssimos os meios de informação que ensinam algo, de como se prevenir
de casos assim, falta diálogo.
- Daher (Guind´art 121): Na
cabeça do adolescente, os pais são agressivos sendo que na verdade querem
preservar a sua integridade. Eles vão, mas sempre voltam.
Para o grupo/artista a situação do aumento do uso do crack na zona
central do DF e em suas cidades já pode ser considerada grave?
- ICA (Instituto Caminho das
Artes): Os números mais recentes divulgados pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) estimam que até 1,2% dos brasileiros sejam usuários do crack. Cerca de
quase três milhões de pessoas estariam reféns desta droga no Brasil. O número
oficial de viciados em crack no Distrito Federal ultrapassa essa marca com mais
de 30 mil jovens, ultrapassando proporcionalmente a média dos outros estados.
Segundo cálculos da ONU, o mercado de crack movimentou cerca de 100 bilhões de
dólares somente em 2009.
- Chamas (Voz sem Medo): Nós do
VOZ SEM MEDO e eu, Chamas, em particular, acompanhamos o crescimento do uso
Crack no Brasil desde o início dos anos 90 . Antes, restrito aos grandes
centros de São Paulo e Rio de Janeiro. Na virada do milênio o problema se alastrou!
Nestes últimos 8, 10 anos, o Crack definitivamente ocupou, aqui no Distrito
Federal, o lugar da merla como droga preferida das crianças, jovens e adultos.
No centro de Brasília, de quatro anos para cá a situação passou a ser crítica.
- Markão Aborígine: Qualquer
situação já é grave. Se o Crack e outras drogas fossem apenas de uso das
periferias, possivelmente não haveria tal “repressão”, divulgação e
“preocupação”. A falta de fiscalização nas fronteiras, sobretudo, a falta de
combate à corrupção (leia-se desvio de recurso do SUS e SUAS e educação) são
mais graves. A omissão e estagnação do governo brasiliense e nacional são
graves. Até então só foram discussões e pouca prática em relação ao combate ao
crack, tratamento de dependentes e fortalecimento social, econômico e afetivo
junto às famílias.
- Japão (Viela 17): O uso do
crack está em estágio avançado causando problemas a todos os centros urbanos e
comunidades, a tal ponto de não somente ser um problema de saúde pública, mas
uma epidemia em massa.
- Daher (Guind´art 121): Todos os
grandes centros estão nas mesma situação. Claro que é grave pois se trata de
vidas sendo perdidas.
Qual a opinião do grupo/artista, sobre as denúncias de supostas
torturas, abusos psicológicos e sexuais cometidos por PM´S do DF à usuários de
crack da Zona Central de Brasília? Crianças e adolescentes supostamente
espancados no “quartinho da tortura” na Rodoviária do Plano Piloto e amarradas
pelas mãos e pés, sendo jogadas da Ponte JK?
- ICA (Instituto Caminho das
Artes): O crack assusta e revela uma policia despreparada, não só em Brasília,
mas em quase todos grandes centros urbanos do Mundo. Quanto aos fatos
anunciados, acredito na discriminação, na intolerância, na truculência de parte
de nossa força policial, mas a tortura é inaceitável. Precisamos fortalecer as
policias estaduais para o enfrentamento do crack em nossa cidade. Entretanto as estratégias de Segurança
Pública no combate a expansão dessa droga deve antes de tudo estar interligadas
em uma abordagem mais ampla, com foco no desafio social (inclusão social,
reinserção e preservação da auto-estima do dependente) e, principalmente na
saúde pública. Devemos ter em mente, que além do estigma que sofre da
sociedade, o dependente químico ainda é alvo de descriminação, até mesmo
familiar. Em primeiro lugar precisamos separar as figuras penais do traficante
e do usuário. Sou a favor de que o tráfico de drogas seja considerado um crime
hediondo, portando inafiançável e sem anistia. Com relação aos usuários sou
contra a qualquer penalidade, mas sou completamente a favor da internação
compulsória.
- Chamas (Voz sem Medo): A
princípio, é bom que se diga que a violência e o abuso de poder por parte das
autoridades policiais sempre existiu. Se ela não foi devidamente investigada e
punida, foi por pura conveniência. O VOZ SEM MEDO, legítimo grupo de Rap
Nacional, tem como filosofia lutar contra toda e qualquer forma de abuso
físico, psicológico e sexual, principalmente, quando estes abusos envolvem
crianças e adolescentes em situação de risco e vulnerabilidade. Para nós, todos
os envolvidos devem ser imediatamente afastados de suas funções. A investigação
deve ser feita com isenção e lisura e transparência, acompanhada pelo
Ministério Público e pela sociedade. Os julgados culpados civil e
criminalmente, devem ser expulsos da corporação e presos.
- Markão Aborígine: Eu poderia
citar que enquanto não houver um bom preparo da Polícia Militar estas situações
vão se repetir, porém não cometerei tal erro, pois este é o dever dela: higienização
social e controle popular. Não dá para esperar tratamento
diferente enquanto não ocuparmos espaços nos Conselhos Comunitários de
Segurança, por exemplo. Enquanto não conhecermos nossos direitos, não
conseguiremos defende-los. Aí temos um papel chave – enquanto Hip Hop. Somos
comunicadores e comunicadoras, devemos dialogar com os agentes de segurança e
políticos, propor alternativas, e, sobretudo voltar à base: ser povo. Mas a
respeito do ocorrido, é necessário que haja investigação e punição exemplar dos
envolvidos e envolvidas. São denúncias gravíssimas que não podem ficar apenas
nas gavetas da corregedoria.
- Japão (Viela 17): As ações
policiais vêm não somente com os usuários de crack na zona central de Brasília,
mas com todos jovens e adolescentes que circulam pelo centro com atitudes
suspeitas. A policia Brasileira nunca se preparou para ações com usuários por
meio de outros processos que não sejam a truculência e repressão.
- MC Ahoto: A policia não só no
DF mas em todo lugar é sempre olhada com maus olhos, assim como existem bons
médicos e maus médicos, bons advogados e maus advogados. As coisas não podem
ser generalizadas, existem policiais e policiais, porém devem-se abrir os olhos
para casos assim, como para todos os outros casos de má conduta do serviço
prestado. A policia é treinada para criminosos, se encontram usuários viciados,
muitas vezes não sabem agir. A policia não é preparada pra isso.
- Daher (Guind´art 121): Não
estava sabendo destas coisas, mas se for verdade, é a cara da maioria desses
policias, (covardes).
Qual a opinião do grupo/artista, sobre a história do médico Marcelo dos
Santos Clemente, que largou a profissão para morar na cracolândia dedicando-se
ao tratamento dos usuários de crack, e que subitamente morreu aos 27 anos?
- ICA (Instituto Caminho das
Artes): Acredito que as dependências químicas em geral é antes de tudo uma
doença, físicas e psíquicas, e esse atrelamento está fortemente associado às
doenças como esquizofrenia, o transtorno afetivo bipolar até a ansiedade
generalizada. Devido à alta letalidade do crack, considerado por alguns
estrategistas militares como arma química, o uso prolongado pode levar o
dependente à depressão, psicose maníaco – depressiva, pânico e comportamentos
anti-sociais, com a perda gradativa do autocontrole, do poder de decidir e da
força de vontade. Acredito que o Doutor Marcelo tenha sido vitima da falta de
estrutura para lidar com esses enfermos que necessita de aparelhamento e de
cuidados 24 horas por dia.
- Chamas (Voz sem Medo): Fiquei
comovido. Principalmente pelo gesto altruísta deste homem impressionante! Este
médico sim merecia todas as honras ao mérito que um cidadão possa receber do
país ao qual pertence. O Doutor Marcelo não teve medo de se expor ao perigo do
submundo das drogas e todas as suas consequências. Para mim ele é um HERÓI
SOCIAL DO BRASIL! Cumpriu magnificamente o Juramento Médico daqueles que
adentram a profissão: curou e salvou vidas!
E ainda serviu de exemplo!
- Markão Aborígine: O jovem Dr.
Marcelo deixa uma mensagem importantíssima: a humanização do atendimento aos
usuários crack. Seu envolvimento e doação à Cracolândia também são referencias
a nós. Hoje criminalizamos e demonizamos aqueles que se encontram nestas
condições. A história dele deve ser conhecida, debatida e sobretudo vivida!
Markão Aborígine
aboriginerap@gmail.com
- Jéssica Balbino: Admiro pessoas
que fazem isso. Pena que são poucas. Ele doou a vida pela causa e isso é lindo.
Se tivéssemos mais Marcelos no país, talvez a situação não fosse tão gritante.
- MC Ahoto: Algumas pessoas tem coragem
de se desprender do ‘’mundo’’ para serem humanas de verdade. Mais um exemplo de
herói.
- Daher (Guind´art 121): É um bom
exemplo para nós todos sabermos que existem pessoas que abrem mão da própria
vida para ajudar o próximo.
O Rap pode ser um instrumento de
conscientização, um alerta a esses jovens usuários ou em situação de miséria
que são mais vulneráveis ao uso do crack?
- ICA (Instituto Caminho das
Artes): O adolescente (12 a
18 anos) em situação de vulnerabilidade social (em situação de uso e/ou tráfico
de drogas; com baixa escolaridade; baixo acesso ao mercado de trabalho; com
atividade sexual precoce e de risco e exposto à violência doméstica e/ou
urbana) tem sua auto-estima baixa e poucas chances de entrar no mercado de
trabalho, já que é marginalizado pela sociedade. O que cria um círculo vicioso:
em que o adolescente é seduzido ao uso das drogas porque não encontra respaldo
do grupo social, e a sociedade o marginaliza cada vez mais porque este é levado
pelas práticas criminosas. Desta forma,
qualquer ação que se dedique a resgatar o adolescente em risco deve considerar
o seu alto grau de indignação e rebeldia, pois estes são constituintes do
momento difícil em que este jovem vive.
Por sua vez, este grupo de risco social tem uma má relação com a escola
formal, visto que a instituição de ensino tem uma hierarquia rígida e
totalmente verticalizada; o que cria, na maioria das vezes, uma relação
autoritária em relação aos estudantes. Assim, os adolescentes em risco social
acabam tendo a imagem de que a escola é outra esfera opressora e de
subordinação, onde este jovem não se sente seguro para expressar suas carências
ou questões existenciais e, então, ele também a rejeita, demonstrando toda sua rebeldia
com a comunidade escolar. O desafio é conseguir despertar a atenção e a
confiança desses jovens, portanto a notoriedade e os discursos rítmico dos hip
hoppers, somados a linguagem fácil de entender e as poesias rimadas e embaladas
pelo ritmo envolvente, fazem da comunidade Hip Hop o melhor canal para dialogar
com esse público no sentido de conscientizá-los a trilhar um caminho de
socialização e de construção social, por eles falam de igual para igual.
- Markão Aborígine: Não só pode
como tem que ser. Mas deixo claro que nada valerá lutarmos tão somente contra o
crack se em nossas canções continuarmos citando o álcool e o cigarro, como
padrão de alegria. Estes matam e viola muito mais que o crack. Precisamos,
assim como qualquer tema, estudo e aprofundamento antes de falarmos ou
cantarmos. A elite brasileira tem consciência que nos privando de acesso a
informação nos manipulará e dominará sem esforços, cabe a nós lutarmos contra
tal opressão.
- Jéssica Balbino: Acredito que
sim, no entanto, o rap/hip-hop não podem ser os únicos responsáveis pelo
resgate dos jovens usuários de crack e/ou outras drogas. É complicado pensarmos
que um movimento cultural pode ser o bote salva-vidas disso tudo, mas sem
dúvida, acredito na transformação pela arte, então, culturas como o hip-hop
podem representar uma porta, uma bóia, algo em que o jovem pode acreditar e
lutar, além da droga.
- Japão (Viela 17): Em tudo que
se trata de comunidade, drogas, repressão e conscientização o RAP está inserido
como fio condutor, levando críticas e em alguns casos, levando solução.
- Daher (Guind´art 121): Com
certeza o rap é a ferramenta que tem mais eficácia junto as comunidades mais
carentes, pois a maioria dos jovens periféricos ouve e entende a mensagens dos
rappers.
O grupo/artista exerce alguma atividade ou projeto visando o combate ao
crack?
- Markão Aborígine: Desde meados
de 2005/2006 desenvolvo oficinas e palestras em escolas públicas no Distrito
Federal e entorno, onde abordo o consumo de álcool e tabaco e a criminalização
da juventude e periferia. Lançamos músicas, informativos e recentemente um
vídeo de animação destinado a crianças, entitulado “Viúvo”. O mesmo será
distribuído gratuitamente as escolas públicas de Samambaia. Além disto, desde
dezembro de 2009 atuo como Conselheiro Tutelar na cidade Estrutural, onde
atuamos diretamente com famílias, crianças e adolescentes em tal situação.
- Jéssica Balbino: Não
necessariamente, embora eu seja uma pesquisadora do tema e atue em oficinas
literárias e de hip-hop para crianças e jovens em situação de risco no CRAS da
cidade onde vivo, Poços de Caldas – MG.
- Japão (Viela 17): Várias ações
já estão sendo praticadas no DF. Temos o Hip Hop contra o Crack que a partir de
maio sairá um pouco do palco para ações em escolas, presídios e grandes centros
urbanos. O projeto tem a intenção de ser levado a vários estados Brasileiros
ainda este ano. Informações no site www.japaoviela17.com.br ou
www.raphours.com.br
- MC Ahoto: Estamos terminando de
montar uma ONG que vai cuidar de crianças viciadas na praça do DI em
Taguatinga-DF, além de oferecermos oficinas para as crianças daqui. Se cada um
fizer um pouco, o mínimo, não vai se precisar do governo.
- Daher (Guind´art 121): Fazemos
parte do projeto Hip Hop Contra o Crack que já esta sendo visto como o maior
projeto dentro do movimento do país. É idealizado pelo ICA (Instituto Caminho
das Artes).
- ICA (Instituto Caminho das
Artes): A comunidade Hip Hop de Brasília, materializada nos grupos - Guind’art
121, Viela 17, Tropa de Elite, Cirurgia Moral, Tribo da Periferia, Atitude
Feminina, Voz sem Medo, Pacificadores, Liberdade Condicional, entre
outras, preocupados com os índices de
violência envolvendo jovens e adolescentes em todo o Distrito Federal,
especialmente nas áreas periferia das cidades satélites, tem promovido um
projeto intitulado de “HIP HOP CONTA O CRACK”, com o propósito da busca por
novas alternativas de produção com o objetivo de movimentar e sensibilizar a
sociedade para a problemática das drogas no Distrito Federal, envolvendo a
comunidade Hip Hop como instrumento de comunicação para promover uma ação
organizada de conscientização coletiva em favor de um pacto pela valorização da
Vida, interferindo diretamente na transformação social dos jovens vitimados
pelo uso das drogas, retirando das ruas, do tráfico, das gangues e da
prostituição.
Os mais de 100 milhões de acessos
que as músicas dos 16 grupos locais associados ao projeto “HIP HOP CONTRA O
CRACK” somados têm postados na internet, pelo site do youtube, provam que o Movimento
Hip Hop de Brasília é uma realidade além de nossas fronteiras. E como tal, se
capacita como veículo formador de opinião para persuadir os jovens nesta luta
contra a disseminação das drogas não só na Capital, mas de todo o Brasil.
Cumpre ressaltar que o referido
projeto foi concebido em forma de um encontro de culturas urbanas
(apresentações artísticas, palestras, oficinas de criação, encontros culturais,
talkshows nas escolas públicas, compartilhamento de experiências e saraus) que
está percorrendo todos os cantos do Distrito Federal, principalmente nas áreas
de risco, com o compromisso em transformar manifestações culturais de rua em
empreendimentos sociais que combatem à ociosidade, à inércia, à exclusão social
e, sobretudo, a marginalização. Mas também que evite a estigmatização dos
adolescentes e jovens envolvidos com o consumo do Crack, por meio da orientação
a superação dessa realidade, inclusive nas escolas, pois a educação é uma das
principais ações de prevenção do consumo entre crianças e adolescentes pela
formação de uma cultura menos vulnerável ás drogas. Por meio da música, da
dança, do grafite, dos DJs, e especialmente pelos discursos rítmicos de nossas
poesias, o hip hop se transforma na voz da periferia e pode promover uma
revolução que resgate a auto-estima desta parcela da população. Com isso,
acreditamos que com o comprometimento dos rappers, neste ambiente fica mais
fácil lutar na guerra contra todo tipo de violência urbana, em especial contra
as drogas.
Mensagem aos jovens do DF e entorno, fãs, famílias e usuários de crack,
de conscientização e motivação, para o não uso da droga.
- ICA (Instituto Caminho das
Artes): A dependência química por estar também atrelada às doenças mentais, a
estratégia de tratamento é definida caso a caso para cada enfermo, que deverá
considerar o tempo de uso, a idade, o sexo, a formação e, inclusive a realidade
econômica. Para cada caso deve haver um diagnostico especifico. Os médicos
estimam ser necessário uns 12 meses de tratamento, que pode chegar, em alguns
casos, até 3 anos. Devido o seu poder
altamente viciante, estimulados pelo baixo custo, e fácil acesso, as
internações são imprescindíveis, mesmo que compulsoriamente, pois o usuário de
crack sem o tratamento adequado é um risco para si mesmo e para a sociedade. A
minha mensagem é para família e para os amigos, pois eles são fundamentais para
que os dependentes se mantenham motivados e compromissados com o tratamento
recebido. No entanto, às vezes o universo familiar dessa população pode ser disfuncional
para recuperação do enfermo, neste caso é necessário o apoio psicológico.
Então, em nome da preservação da vida do seu ente querido, interne-o, mesmo que
ele não queira buscar a reconciliação com sua saúde. Tenha fé em Deus, e
acredite, essa enfermidade está tendo um propósito à vida dele.
- Markão Aborígine: Assim como
nos palcos proponho que combatamos a omissão e negligência tão presente em nós;
peço a você que está lendo está matéria, que conhecendo criança ou adolescente
em situação de drogadição procure um Conselho Tutelar em sua cidade, um CRAS ou
CREAS. Indique a família aos AA – Alcoólicos Anônimos e NA – Narcóticos
Anônimos. Estes espaços orientam as famílias e comunidade como lidar com a
situação. “Quantas, quantos? Que nesta noite adentraram seus lares e ao invés de
trazer alegria, fartura, bênçãos, trarão somente a tristeza, pranto,
sofrimento. Quantas, quantos? Nesta noite serão encontrados aos pedaços dentro
carros devido o acidente provocado pela embriaguez Quantos nesta noite provarão
o álcool pela primeira vez?” Pretérito Imperfeito
Fica ainda o convite a nos
assumirmos como livres. NÃO PRECISAMOS
DE TRAGOS E DOSES, ESTES NÃO TRAZEM ALEGRIAS, APENAS ALGEMAS. Estou cansado
de ver amigos de infância morrendo de overdose, outros morrendo após acidente
de trânsito devido a embriaguez. Chega! Temos exemplos suficientes para nos
distanciarmos, não basta?
- Jéssica Balbino: Sou uma
otimista e discutir o problema já é um avanço. Ainda não é necessariamente o
que precisamos, mas é um avanço, sem dúvidas. Como já disse, acredito na
transformação pela arte, pela educação, pela informação e pela erradicação da
fome. Sonhar é preciso e ter mecanismos para realizar estes sonhos, ainda mais.
Portanto, parabéns para iniciativas como o “Hip-Hop contra o crack” e revistas
como esta. Estamos juntos nessa luta para remover as “pedras” do caminho. Obrigada,
Jéssica Balbino, jornalista e escritora.
- Japão (Viela 17): Dizer “diga
não as drogas” não resolverá nada, então a mensagem é somente: VIVA ENQUANTO HÁ TEMPO E DESVIE DO ZAGUEIRO!
http://japaoviela17.com.br/2012/03/musica-tema-do-projeto-hip-hop-contra-o.html
- MC Ahoto: União e nunca
desacreditar. O poço nunca é tão fundo que alguém não possa te ajudar a voltar à
superfície!
- Daher (Guind´art 121): Pedir
para os pais trabalham fora, que não podem acompanhar os filhos ao dia, que
conversem muito com eles orientando que o crack leva à morte, e que estes,
escutem seus pais.
Parabéns,
ResponderExcluirExcelente matéria.
Parabéns... nessas letras (da entrevista) podemos sentir vida pulsando... Passei a ser seguidora deste blog a partir de agora.
ResponderExcluirExelente trabalho, é de suma importancia que todos os grupos estejam enganjados a cerca de debater e opinar sobre o assunto (Dragas), é de reponsabilidade dos movimentos sociais debatar e atuar no combate a este mau que assola a periferia do todo brasil, uma vez que o governo não faz sua parte, nos devemos fazer a nossa
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